No primeiro debate da campanha eleitoral dos Estados Unidos deste ano, na noite de quinta-feira, 28, o ex-presidente americano Donald Trump e o atual chefe da Casa Branca, Joe Biden, discutiram sobre temas como aborto e política tributária. Ao longo da noite, o democrata tropeçou nas palavras, lutando para entregar suas respostas, enquanto o republicano o cercou com declarações falsas sobre o ataque trumpista ao Capitólio (sede do Congresso americano), a dívida nacional, e o estado da economia durante seu mandato (2017-2020).
Biden descreveu Trump como “o pior presidente da história americana”, citando um consenso de um grupo de historiadores americanos. O republicano respondeu exaltando seus cortes de impostos. E, diante de quase qualquer pergunta simples – sobre a economia, aborto, a crise de opioides –, o ex-presidente usava inconsistências sobre a questão da imigração ou a ameaça da China para responder. Ele também vomitou diversas declarações falsas sobre o aborto, o meio ambiente e a fronteira EUA-México, que os moderadores da emissora americana CNN, que hospedou o debate, tiveram dificuldade de verificar.
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A voz de Biden estava rouca – sua campanha disse que ele estava resfriado – e o presidente lutou com frequência para concluir seus pensamentos. Durante um momento notável no início do debate, ele estava criticando Trump sobre as suas políticas fiscais e, tentando acelerar diante do limite de tempo para falar, deixou escapar: “Finalmente derrotamos o Medicare”, referindo-se ao sistema de seguros de saúde gerido pelo governo, uma frase que não faz sentido.
Após o debate, analistas debruçaram-se sobre o pânico do Partido Democrata em relação ao desempenho de Biden. Vários sugeriram que a legenda precisa considerar a nomeação de um candidato diferente para concorrer às eleições contra Trump.
“O mais importante nesta eleição são as preocupações dos eleitores – e são tanto os eleitores indecisos quanto os eleitores da base – com sua idade. E essas preocupações aumentaram esta noite”, disse o estrategista democrata David Plouffe à emissora americana MSNBC.
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Aborto
Esperava-se que essa fosse a maior questão da noite, que os democratas querem usar para incentivar eleitores a irem às urnas. Logo no início do debate, a moderadora da CNN, Dana Bash, perguntou a Trump sobre a sua posição sobre o aborto num contexto em que a Suprema Corte, que deve sua maioria conservadora às indicações de ministros do ex-presidente, reverteu o direito nacional ao procedimento.
“O que eu fiz foi colocar três juízes da Suprema Corte no tribunal e eles derrubaram o Roe vs. Wade (a antiga decisão da corte que dava precedente para permitir abortos)”, disse Trump. “Neste momento, os estados controlam (o acesso ao aborto) e essa é a vontade do povo”, acrescentou, observando que é a favor de excepções à proibição. Biden defendeu o acesso ao aborto legal, e Trump respondeu arrastando o debate para uma discussão sobre a imigração ilegal.
Os comentários do candidato republicano sobre o aborto basearam-se numa mentira popular entre religiosos conservadores: que os democratas são a favor de políticas que permitem o aborto até o nascimento. Falsamente, ele também afirmou que restringir o procedimento era algo “que todos queriam”, apesar das pesquisas mostrarem consistentemente que a população deseja pelo menos algum tipo acesso ao aborto nos termos da lei.
E, no entanto, foi Trump quem chamou Biden de mentiroso.
Imigração, Ucrânia e democracia
Trump argumentou que “milhões de pessoas” estão atravessando a fronteira e recebendo benefícios sociais – uma afirmação sem provas. Também argumentou que a crise dos opioides poderia ser atribuída à produção de fentanil na China, contrabandeado para os Estados Unidos através da fronteira com o México. Biden rebateu que seu governo apresentou uma proposta para aumentar a segurança na divisa, mas que os republicanos no Congresso a rejeitaram a pedido de Trump.
Os candidatos diferiram sobre a guerra na Ucrânia. Biden rotulou o presidente russo, Vladimir Putin, de um criminoso de guerra que estenderia o conflito a estados vizinhos da Otan, como a Polônia. Trump, no entanto, chamou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de “o maior vendedor do mundo”.
Trump negou responsabilidade pelo ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, quando seus apoiadores invadiram a sede do Congresso para tentar interromper o processo de certificação dos resultados da eleição. Ele argumentou que, na verdade, a então presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, foi responsável porque recusou soldados da guarda nacional para proteção – uma das várias alegações questionáveis.