O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (24) o cancelamento da visita de seu secretário de Estado, Mike Pompeo, à Coreia do Norte, agendada para a próxima semana. Tomada como alerta para a falta de avanços na desnuclearização pelo regime de Pyongyang, a medida equivale a uma suspensão nas negociações bilaterais.
Trump atribuiu a escassez de avanços à China, que tem se mantido à margem das conversas entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte. Mas continua a ser o principal aliado de Pyongyang e o alvo preferencial das barreiras comerciais impostas pelo governo americano.
“Pedi ao secretário de Estado Mike Pompeo para não ir à Coreia do Norte dessa vez porque sinto que não estamos fazendo progresso suficiente em relação à desnuclearização da Península Coreana”, afirmou Trump no Twitter. Ele acrescentou não acreditar que os chineses “estejam ajudando no processo de desnuclearização como fizeram antes”.
Em outro tuíte, Trump afirmou que ainda visitaria a Coreia do Norte “no futuro próximo, preferencialmente quando nossa relação comercial com a China esteja resolvida”. Nesta semana, seu governo aumentou novamente as tarifas de importação para mais um conjunto de bens chineses.
“Enquanto isso, gostaria de enviar minhas saudações mais calorosas ao presidente Kim. Espero vê-lo em breve”, escreveu Trump, sem indicar se as frases eram sinceras ou irônicas.
Ontem, Pompeo afirmou que voltaria à Coreia do Norte na próxima semana para a etapa seguinte do processo de negociação sobre a “desnuclearização final e totalmente verificada da Coreia do Norte”. O processo, entretanto, envolveria também a desmontagem do arcabouço nuclear dos Estados Unidos na região e, especificamente, na Coreia do Sul.
A viagem abortada seria a quarta de Pompeo à Coreia do Norte e a segunda desde a reunião histórica, em 12 de junho em Singapura, entre Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong Un.
Não se trata da primeira vez que Trump se aproveita da imprevisibilidade de negociações agendadas. Ele chegou a anunciar o cancelamento de sua reunião com Kim, em maio, mencionando a “hostilidade aberta” da Coreia do Norte. Recuou depois.
De acordo com o jornal Washington Post, Trump tem se mostrado frustrado com os parcos avanços da desnuclearização norte-coreana e chegou a sugerir em público que esse objetivo talvez exige mais tempo do que o inicialmente estimado.
Em sua última visita a Pyongyang, em julho, Pompeo voltou a Washington praticamente de mãos vazias e sem conseguir se encontrar com Kim, informou o Post. Para a viagem da próxima semana, ele pretendia levar consigo seu novo enviado especial para a Coreia do Norte, Steve Biegun, ex-executivo da Ford.
O presidente americano afirma ter “solucionado em grande medida” o problema nuclear da Coreia do Norte. Mas a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), vinculada às Nações Unidas, informou recentemente não ter nenhuma prova de que as atividades nucleares norte-coreanas cessaram.
“A continuação e o posterior desenvolvimento do programa nuclear da Coreia do Norte e as declarações relacionadas a esse país são motivos de grande preocupação”, destacou em um relatório da agência.
Acredita-se que a Coreia do Norte esteja perto de desenvolver um dispositivo nuclear em miniatura e os mísseis balísticos necessários para lançá-lo sobre qualquer lugar dos Estados Unidos.