A corrida presidencial dos Estados Unidos entrou em seus últimos cinco dias, com a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump empatados nas pesquisas de intenção de voto. Na noite de quarta-feira 30, ela fez alguns de seus argumentos finais em um comício em Wisconsin, um dos sete estados que devem decidir os resultados deste ano, mas seu discurso foi ofuscado por um comentário infeliz feito pelo atual presidente, Joe Biden, onde pareceu chamar os eleitores republicanos de “lixo”.
O que aconteceu?
A história é longa. Tudo começou no último domingo 27, quando o comediante Tony Hinchcliffe fez um comentário anti-imigração, considerado como racista por críticos, durante um evento eleitoral do ex-presidente americano no Madison Square Garden, em Nova York. “Há literalmente uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano agora, acho que se chama Porto Rico“, afirmou, em tom de piada.
Não caiu bem. Tanto democratas quanto republicanos condenaram a fala, da qual mesmo Trump tentou se distanciar. Eis que Biden decidiu comentar a polêmica na quarta-feira, se embananou e soltou uma frase nas linhas de: “O único lixo que vejo flutuando por aí são os apoiadores (de Trump)“.
A Casa Branca foi rápida em insistir que ele estava falando apenas sobre o comediante, e não sobre todos os republicanos. Mas o estrago já estava feito, uma crise desnecessária para a campanha de Harris em uma corrida em que qualquer tropeço conta. Em 2016, a então candidata democrata Hillary Clinton cometeu o erro que é apontado como um de seus principais deslizes. Cansada de ataques misóginos dos seguidores mais fanáticos de seu adversário, resolveu defini-los de maneira agressiva: “Você poderia colocar metade dos apoiadores de Trump no que eu chamo de cesta dos deploráveis”, declarou. Meses depois, perdeu as eleições para ele.
Trump não perdeu tempo para explorar a situação. Na quinta-feira, após chegar em Green Bay, Wisconsin, para um comício à noite, vestiu um colete de gari e embarcou num caminhão de lixo, falando brevemente com repórteres pela janela do veículo — uma acrobacia de campanha semelhante ao que ele fez no início deste mês, ao gravar um vídeo como “funcionário por um dia” de uma filial do McDonalds na Pensilvânia (outro estado-chave para a eleição deste ano).
“O que vocês acharam do meu caminhão de lixo?”, disse Trump aos jornalistas, vestindo o colete de segurança sobre uma camisa social e gravata vermelha. “Isto é em homenagem a Kamala e Joe Biden.”
Antes disso, compareceu a dois comícios usando o mesmo colete de gari. Em Wisconsin, subiu ao palco e declarou: “Tenho que começar dizendo que 250 milhões de americanos não são lixo”.
Ele também voltou a tentar se distanciar do comediante Tony Hinchcliffe, cuja piada desencadeou a polêmica, apesar de não ter pedido desculpas os porto-riquenhos.
“Não sei nada sobre esse comediante. Não sei quem ele é, nunca o vi”, disse o republicano. Anteriormente, um porta-voz de sua campanha afirmou que a piada não reflete suas opiniões. “Eu amo Porto Rico e Porto Rico me ama”, garantiu o candidato presidencial.