Em reportagem especial publicada hoje em sua edição online, o jornal The New York Times constata que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esteve sempre longe de ser um self-made billionaire. Dessa profunda investigação jornalística, o governante emerge como o empresário que recebeu 413 milhões de dólares do império de seu pai e que amealhou muitos milhões mais em esquemas de evasão e de fraude fiscais nos anos 1990.
A investigação da reportagem “Trump engajou-se em esquemas tributários suspeitos enquanto colhia a riqueza de seu pai” está baseada em dezenas de milhares de documentos confidenciais, entre os quais declarações de Imposto de Renda e registros financeiros.
Durante sua campanha para a Casa Branca, em 2016, o então candidato republicano recusou-se insistentemente a divulgar suas declarações de Imposto de Renda – uma prática esperada em períodos eleitorais.
“O senhor Trump venceu a presidência proclamando-se como um bilionário que se fez a si mesmo e ele insistiu por muito tempo que seu pai, o lendário construtor Fred C. Trump, da cidade de Nova York, não lhe deu quase nenhuma ajuda financeira”, informa o jornal.
Em seu esforço para desmontar a principal marca de Trump – a de ter construído sozinho seu patrimônio bilionário -, o Times detalha como o atual presidente dos Estados Unidos e seus irmãos montaram uma empresa laranja, a All County Building Supply & Maintenance, em 1992, para disfarçar a transferência de dinheiro de seu pai para eles.
Os documentos também mostram como o próprio Donald Trump ajudou seu pai a evitar o pagamento de centenas de milhões de dólares em Imposto de Renda por meio de brechas fiscais e da subestimação do valor de seus bens e lucros. A carga tributária sobre as propriedades transferidas mais tarde a ele e seus irmãos foi reduzida sensivelmente.
“Essas manobras encontraram pouca resistência da Receita Federal americana”, sublinha o Times. “Os pais do presidente, Fred e Mary Trump, transferiram bem mais de 1 bilhão de dólares em riqueza a seus filhos, valor que poderia ter produzido uma fatura de 550 milhões em imposto conforme a tarifa de 55% aplicada na época sobre doações e heranças. Os Trumps pagaram um total de 52,2 milhões ou cerca de 5%, mostram os registros tributários”, registra o jornal.
Donald Trump sempre se apresentou como o empresário desvinculado da fortuna construída por seu pai. Em sua versão sobre como tornou-se um homem de 10 bilhões de dólares, segundo o Times, o atual presidente conta ter recebido um empréstimo de 1 milhão de dólares de Fred Trump. “Eu tive de devolver para ele com juros” e “eu construí o que construí por mim mesmo” são frases que ele costuma repetir.
Na investigação, o Times constatou que, aos 3 anos de idade, Donald Trump já ganhava 200 mil dólares por ano da empresa de seu pai. “Ele se tornou milionário aos 8 anos”, registrou o jornal. Aos 17, recebeu de seu pai a propriedade de um prédio com 52 apartamentos.
Quando terminou a faculdade, recebia o equivalente a 1 milhão por ano. Nos seus 40 e 50 anos de idade, esse montante subiu para 5 milhões anuais. Trump ainda recebia de Fred um cheque de 10 mil dólares em cada Natal.
A reportagem traz outra informação inédita: em 1997, Trump e seus irmãos tornaram-se proprietários da maior parte do império de seu pai, um ano e meio antes de sua morte. Para esquivar-se da carga de Imposto de Renda sobre essa transferência, foi declarado que esses bens imobiliários valiam 41,4 milhões de dólares. Na década seguinte, segundo o jornal, esses imóveis foram vendidos por preços 16 vezes mais altos.
Em 2004, quando os irmãos Trump venderam o império que seu pai construíra em 70 anos, Donald amealhou 236,2 milhões de dólares, em valores atuais.
Em seu afã de demolir a versão do presidente americano de que construiu sua própria fortuna sem a ajuda de ninguém, o Times sublinha que a marca registrada de seu império, a Trump Tower, em Nova York, foi levantada com dinheiro de Fred Trump.
A reportagem do jornal The New York Times foi assinada por David Barstow, Susanne Craig e Russ Buettner. A equipe menciona logo na primeira parte do texto ter solicitado muitas vezes os comentários de Trump, que sempre os negou, e enviado um descrição detalhada dos fatos encontrados na documentação. O advogado do presidente, Charles J. Harder, enviou ao jornal um comunicado na segunda-feira, dia 1º.
“As alegações do New York Times de fraude e evasão fiscal são 100% falsas e altamente difamatórias”, escreveu o advogado.