Trump ‘põe o joelho sobre o pescoço da democracia’, diz Al Gore
Ex-vice-presidente criticou o presidente por comprometer o sistema de votação por correspondência e questionar a integridade das eleições de novembro
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ambientalista Al Gore denunciou nesta terça-feira, 25, o presidente americano, Donald Trump, por sua campanha contra a votação por correspondência nas eleições presidenciais de novembro. Em alusão ao caso George Floyd, o democrata disse que Trump tenta “por o joelho sobre o pescoço da democracia”.
“Privar as pessoas que estão com medo da pandemia de votar por correspondência por meio do desmantelamento do serviço de correio estatal — ele está tentando por o joelho dele sobre o pescoço da democracia“, disse o ex-vice-presidente durante o governo de Bill Clinton em entrevista à agência de notícias Reuters.
Gore se referia à campanha de precarização do Serviço de Correios dos Estados Unidos (USPS) desde a chegada do novo diretor-executivo do órgão, Louis DeJoy, em junho. A gestão DeJoy desmantelou pelo menos 19 máquinas para ordenar correspondências, capazes de processar 35.000 cartas por hora, e está subutilizando outras 671.
Além disso, como reportou o jornal The Washington Post em um artigo de 30 de julho, DeJoy proibiu o pagamento por hora extra dos servidores e reduziu o número de correspondências que cada carteiro pode levar por viagem.
Em uma carta aberta divulgada em 17 de agosto, dois deputados democratas, Hakeem Jeffries e Ted Lieu, dizem que, se a política de precarização do USPS não for revertida, o voto por correspondência nas eleições gerais deste ano, em 3 de novembro, será prejudicado em pelo menos 46 dos 50 estados americanos.
“Não, não estamos adulterando nada”, se justificou Trump em uma entrevista à emissora Fox News na segunda-feira 17. “Queremos fazer [o USPS] funcionar de forma eficiente e bem executado. Queremos fazer com que funcione por menos dinheiro e muito melhor ”, acrescentou.
O republicano, porém, é notório por rotular o voto por correspondência como suscetível a fraude desde maio pelo menos. Em nenhuma vez, o presidente apresentou provas que comprovassem sua opinião.
Em artigo, a emissora americana CNN apresentou um estudo conduzido pelo professor Justin Levitt, da Loyola Law School, que indica que houve apenas 31 casos de votos fraudados eentre mais de um bilhão entre 2000 e 2014.
‘Estratégia desprezível’
Gore também denunciou a estratégia retórica de Trump de, antecipadamente, acusar as eleições de novembro de fraude. No caso mais recente, durante a primeira noite da Convenção Nacional do Partido Republicano, na segunda-feira 24, o presidente afirmou que “a única maneira de ‘eles’ tirarem a eleições de ‘nós’ é se as eleições forem fraudadas. Nós vamos ganhar”.
“Ele parece não ter escrúpulos em tentar destruir o tecido social e o equilíbrio político do povo americano, e está estrategicamente plantando dúvidas [sobre as eleições] antecipadamente”, disse o ex-vice-presidente.
O democrata chamou o comportamento de Trump durante estas eleições de uma “estratégia desprezível”.
Eleições 2000
Ironicamente, o próprio Gore, que foi vice do presidente Bill Clinton durante os seus dois mandatos na década de 1990, esteve sob os holofotes de uma eleição presidencial contestada. No pleito de 2000, ele perdeu para o então candidato republicano, George W. Bush, por apenas algumas centenas de votos dos eleitores do estado da Flórida.
Apenas um mês depois do dia da eleição naquele ano, em meio à recontagem dos votos na Flórida e a uma batalha judicial que chegou até a Suprema Corte americana, Gore reconheceu a vitória de Bush.
“Parecia-me que o respeito pelo Estado de Direito e o respeito pelas necessidades da democracia americana estavam na ordem do dia”, justificou o democrata a sua decisão de conceder derrota após decisão da Suprema Corte.