Trump é acusado de estimular violência contra deputada muçulmana
Presidente americano vinculou congressista somaliana a atentados de 11 de Setembro em tuíte; Casa Branca negou acusações
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, defendeu nesta o presidente Donald Trump das acusações de que ele estimulou a violência contra uma deputada muçulmana, depois de tuitar um vídeo que alterna imagens da parlamentar e dos ataques de 11 de setembro de 2001.
A declaração de Sanders veio logo depois de a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, dizer que conversou com as autoridades sobre a segurança de sua colega e pedir a Trump que apagasse o tuíte.
No post, o presidente americano compartilhou um vídeo em que a congressista Ilhan Omar fala sobre o 11 de setembro. A edição foi feita de forma que a declaração da deputada é repetida e alternada com cenas dos atentados.
Nas imagens, Omar aparece apenas dizendo a frase: “Algumas pessoas fizeram algo”. Uma música em tom de ameaça acompanha as palavras.
No post do vídeo, Trump escreveu: “Nós nunca esqueceremos”. O presidente foi acusado por congressistas democratas de incitar a violência contra Omar.
Em um comunicado publicado no Twitter, a deputada afirmou no domingo que tem recebido muitas ameaças, em “referências diretas ou respostas ao vídeo do presidente”.
“Crimes violentos e outros atos de ódio por extremistas de ultradireita e nacionalistas brancos estão em alta neste país e no mundo. Não podemos seguir ignorando que eles estão sendo estimulados pelo ocupante do gabinete mais importante na Terra”, escreveu.
Democratas importantes, como os deputados Beto O’Rourke e Alexandria Ocasio-Cortez e a senadora Kamala Harris, saíram em defesa de Omar, acusando o presidente e outros republicanos de retirar deliberadamente de contexto seus comentários e colocar sua vida em risco.
Sanders, no entanto, defendeu Trump e disse que o “presidente não deseja que exista má vontade e nem violência contra ninguém”. Mas acrescentou que “são absolutamente repugnantes os comentários que continua fazendo e já fez. E (os democratas) olham para o outro lado”.
Pelosi também falou sobre o tema: “As palavras do presidente pesam uma tonelada. E sua retórica de ódio e incendiária gera um perigo. O presidente Trump deve eliminar seu vídeo desrespeitoso e perigoso”, disse.
Em resposta ao presidente, Omar tuitou no sábado: “Ninguém – não importa quão corrupto, inepto ou perverso – pode ameaçar meu amor inabalável pelos Estados Unidos”.
“Eu permaneço implacável para continuar lutando por igualdade de oportunidades em nossa busca pela felicidade para todos os americanos”, completou.
A declaração usada por Trump em seu tuíte é um trecho de um discurso de 20 minutos feito pela deputada em março, no qual ela discutia a discriminação sofrida pelos muçulmanos depois do 11 de Setembro e o recente ataque a uma mesquita na Nova Zelândia.
Omar é somaliana e passou quatro anos em um campo de refugiados no Quênia até emigrar para os Estados Unidos e construir uma carreira política no estado de Minnesota. Ela foi eleita para a Câmara em novembro passado junto a um elenco de calouros, todos ungidos pela reação anti-Trump.
Em fevereiro, a congressista esteve no centro de outra polêmica. Ela foi acusada de fazer declarações antissemitas depois de criticar o lobby pró-Israel nos Estados Unidos.
A deputada respondia uma pergunta sobre o poderoso grupo AIPAC (Comitê Americano-Israelense de relações Públicas), uma organização que defende os interesses de Israel e que hoje é politicamente dominada pela direita evangélica americana, quando disse: “Eu quero falar sobre a influência política neste país, que tolera a pressão pela lealdade a um país estrangeiro.”
Ela foi acusada de recorrer a clichês que remontam a marcos do antissemitismo, especialmente o centrado na Europa. Apesar de Omar ter feito outros comentários críticos tanto sobre Israel como sobre os direitos humanos na Arábia Saudita, foi essa declaração do começo de março que despertou a ira de seus colegas da bancada democrata.
A deputada se desculpou por sua insensibilidade a clichês culturais do antissemitismo histórico.
(Com AFP)