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Trump dispõe do Congresso e avalanche de decretos, mas obstáculos são consideráveis

Ele assume um mandato dito 'trifeta', com controle do Executivo, da Câmara e do Senado, só que propostas mais polêmicas podem encontrar entraves

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 jan 2025, 13h39 - Publicado em 20 jan 2025, 12h07

Petulante como sempre, Donald Trump toma posse como presidente dos Estados Unidos nesta segunda-feira, 20, ainda mais incisivo, mais imprevisível, mais convencido de si e, claro, mais amigo dos amigos e mais perigoso para os inimigos. Antes da cerimônia em Washington, D.C., caprichou nas bravatas e atravessou a transição falando em comprar a Groenlândia, ocupar o Panamá e anexar o Canadá em nome dos altos interesses dos Estados Unidos, uma invocação moderna da doutrina do destino manifesto, cunhada em 1845 para justificar a violenta expansão do território americano como uma missão divina de engrandecer a civilização.

Visto com lupa, o caminho a ser percorrido por Trump tem obstáculos consideráveis. Embora sua vitória tenha sido impressionante, considerando que antes da campanha parecia mais próximo do ostracismo político ou até mesmo da cadeia, ela se deu por maioria mediana, embora diga ter sido “uma lavada”, e seu índice de aprovação no momento empata com o de reprovação.

Assume um mandato dito “trifeta”, palavra derivada das corridas de cavalo que define um bilhete triplamente premiado — no caso dos republicanos, a conquista do Executivo e de maioria nas duas casas do Legislativo. Mas as mudanças que propagandeia não devem ser um passeio, porque o Partido Republicano tem maioria apertadíssima na Câmara e no Senado (dois e três assentos, respectivamente).

A tropa trumpista controla a legenda, e o presidente da Câmara, Mike Johnson, pretende agir “agressivamente” para cumprir sua agenda, mas há sempre a possibilidade de deserções capazes de virar votações. “Trump inevitavelmente sofrerá um choque de realidade”, avalia o economista Conor O’Kane.

Prevê-se que o retorno de Trump promova, sim, uma reviravolta nas prioridades internas e externas do governo americano. A amostra virá no dia 1 do novo governo, quando deve assinar, com caneta de ponta grossa que ressalta a escrita, ao menos 100 ordens executivas relativas ao endurecimento contra imigrantes ilegais, cortes de impostos e incentivos para exploração de petróleo — assuntos sobre os quais não tem total poder de decisão.

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Mais imediato, por ser direito do presidente, será o prometido indulto aos invasores do Congresso em 2021 — uma barbaridade por ele renomeada “um dia de amor”. Uma pequena amostra da onda conservadora provocada por seu retorno foi a proibição de alunas trans em competições esportivas, aprovada recentemente na Câmara — a primeira vitória trumpista da nova legislatura.

Fora dos Estados Unidos, a Casa Branca quer reduzir seu papel na Otan, ONU, OMS e em outros organismos e se afastar de aliados da Europa que não se alinhem a esses novos tempos.

Com a volta por cima na política e o tamanho inédito da rede de apoios construída agora ao seu redor, Trump está mais empoderado do que nunca para testar novamente a capacidade das instituições americanas de resistirem aos seus projetos polêmicos, como o da “maior deportação da história” ou o fim do Departamento de Educação — parte da cartilha para expurgar o “vírus woke” das escolas. Tudo isso, vale lembrar, requer a colaboração de agências diversas e o aval do Congresso.

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A expulsão de mais de 1 milhão de ilegais por ano, como prometeu, pode encontrar entraves na Justiça e no caixa, já que custaria quase 300 bilhões de dólares. Mais aceitação devem ter as propostas de manter e ampliar os cortes de impostos implantados na primeira gestão e os incentivos à indústria de combustíveis fósseis, acompanhados da anulação de regulamentações ambientais. “Há consenso em torno de medidas que impulsionem os lucros de empresas”, afirma Christopher Tang, professor de economia na UCLA.

A despeito de alguns obstáculos, o prometido e temido tarifaço de 10% a 30% sobre todas as importações pode, sim, ser instaurado por decreto. Trump as usa como ferramentas de intimidação de modo que nunca se viu antes, e está funcionando. O Banco Central Europeu estuda aumentar as compras de produtos made in USA para cair nas graças da Casa Branca, mesma atitude contemplada pelo Canadá. O premiê britânico, Keir Starmer, relevando insultos do “primeiro-amigo” Musk, faz de tudo para fechar vultosos acordos comerciais com os Estados Unidos. O ucraniano Volodymyr Zelensky, aflito com os rumos da guerra contra a Rússia, propôs dar a empresas americanas acesso especial aos minérios de seu país.

Entender a dimensão das mudanças que Trump será capaz de promover levará tempo. Seu segundo mandato está cercado de incógnitas, e muitas das bravatas são vistas não como propostas concretas, mas como maneira de criar vantagens de negociação. Nos tempos de empresário, ele escreveu em A Arte da Negociação que toda transação é de soma zero, com um lado perdedor e o outro, vencedor — como sempre quer ser percebido. A única certeza é que, para isso, está disposto a criar todo tipo de turbulência.

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