‘Tirem as mãos da África’, diz papa Francisco sobre potências estrangeiras
Pontífice visitou República Democrática do Congo nesta terça-feira e criticou exploração desenfreada promovida por países ricos
Em uma visita à República Democrática do Congo nesta terça-feira, 31, o papa Francisco denunciou o “veneno da ganância” das potências estrangeiras que saqueiam recursos naturais e impulsionam conflitos no continente africano. Milhares de pessoas, incluindo crianças em uniformes escolares, foram até a estrada principal de Brazzaville, capital do país, para receber o pontífice.
A viagem ao país, a quinta em dez anos desde que Francisco assumiu, tem como objetivo principal denunciar a exploração secular da África pelas potências coloniais que alimentaram guerras, o deslocamento em massa e a fome.
“Tirem as mãos da República Democrática do Congo. Tirem as mãos da África. Parem de sufocar a África: não é uma mina a ser despojada ou um terreno a ser saqueado”, disse o papa.
O país tem uma das maiores minas diamante do mundo e um vasta riqueza mineral e natural. No entanto, a mineração também tem sido associada à exploração desumana de trabalhadores, ao trabalho infantil e à degradação ambiental.
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Para agravar os problemas do país, o leste do Congo é atormentado desde o genocídio em Ruanda de 1994 pela violência. O país acusa Ruanda de apoiar o grupo rebelde “M23” que luta contra tropas do governo no leste.
Na visita, o papa não só exigiu que os interesses estrangeiros parassem de dividir o país, mas também pediu para que as potências reconhecessem seu papel na “escravização” econômica do povo congolês.
“Assim como milícias armadas, potências estrangeiras famintas pelos minerais em nosso solo cometem, com o apoio direto e covarde de nosso vizinho Ruanda, atrocidades cruéis”, disse o presidente congolês, Felix Tshisekedi, que discursou pouco antes do papa no mesmo palco. Apesar do comentário do chefe de Estado, Francisco não comentou sobre a situação entre os países.
A viagem do religioso, que vai durar seis dias e inclui uma escala no Sudão do Sul, estava marcada para julho do ano passado, porém foi adiada pelos problemas no joelho do papa. O roteiro original também incluía uma parada em Goma, no leste do Congo, entretanto, a região vizinha de Kivu do Norte foi assolada por intensos combates entre tropas do governo e o “M23”, além de tanques ligados ao grupo do Estado Islâmico. Ao invés de se deslocar para lá, Francisco vai se encontrar com uma delegação de pessoas em um encontro privado.
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Estima-se que 5,7 milhões de pessoas precisaram se deslocar internamente no país devido aos intensos confrontos que ocorrem no Congo. Além disso, segundo a ONU, cerca de 26 milhões de pessoas enfrentam fome severa por causa do impacto do conflito armado.
“Tem-se a impressão de que a comunidade internacional praticamente se conformou com a violência que o devora [o Congo]. Não podemos nos acostumar com o derramamento de sangue que marca este país há décadas, causando milhões de mortes”, afirmou Francisco.
O continente é um dos poucos lugares em que o número de católicos cresce. O Congo é destacado como o país africano com mais católicos: metade dos habitantes, cerca 105 milhões de pessoas, segue a religião. A nação também conta com mais de 6 mil padres e 10 mil freiras.
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O papa também apontou para o papel das potências coloniais, como a Bélgica, na exploração do Congo. Alguns grupos de ajuda esperavam que, durante a visita, o pontífice destacasse os conflitos esquecidos do Congo e do Sudão do Sul e seus crescentes custos humanitários e reacendesse a atenção internacional aos confrontos que ficou as sombras da crise na Ucrânia.
“Que o mundo reconheça as coisas catastróficas que foram feitas ao longo dos séculos em detrimento dos povos locais, e não se esqueça deste país e deste continente”, afirmou o pontífice. “Não podemos nos acostumar com o derramamento de sangue que marcou este país por décadas, causando milhões de mortes que permanecem desconhecidas em outros lugares”.
Ao mesmo tempo, Francisco também questionou as autoridades congolesas sobre seus papéis no trabalho pelo bem comum e não pelos interesses tribais, étnicos ou pessoais. Para ele, é preciso acabar com o trabalho infantil e investir na educação para que “ os diamantes mais preciosos” do Congo possam brilhar.