Terrorista já havia sido preso antes de ataques no Sri Lanka
Governo apontou clérigo muçulmano ligado ao Estado Islâmico como mentor do atentado; igrejas católicas do país permanecerão fechadas
Um dos terroristas responsáveis pelos ataques do domingo de Páscoa no Sri Lanka já havia sido detido e depois liberado pelas autoridades locais antes dos atentados, afirmou nesta quinta-feira, 25, o porta-voz do governo à emissora americana CNN.
Segundo Sudarshana Gunawardana, que representa o gabinete do primeiro-ministro, Ilham Ahmed Ibrahim foi liberado pela polícia. Ele e seu irmão, Inshaf, registraram-se nos hotéis Shangri-lá e Cinnamon, em Colombo, e explodiram-se durante o café da manhã no domingo 21.
Os dois terroristas são filhos de um dos comerciantes de especiarias mais ricos do Sri Lanka, Mohammad Yusuf Ibrahim. O magnata foi preso após os ataques.
Além de Mohammad Yusuf, outras 19 pessoas da família foram detidas pelos oficiais responsáveis pela investigação. Os ataques de domingo deixaram 359 mortos em três igrejas e vários hotéis de luxo do país.
Ilham usou seus dados verdadeiros para se registrar no hotel atacado, o que levou a polícia até seu endereço logo após a tragédia. A mulher do terrorista detonou um colete de explosivos preso ao seu corpo ao se dar conta de que seria presa.
Ela estava grávida e, além do bebê que carregava, matou outros dois filhos e três policiais na explosão. A mulher foi identificada como Fatima pela imprensa local.
Os outros sete terroristas envolvidos nos ataques aos hotéis e igrejas cristãs também foram identificados. Todos são naturais do Sri Lanka e a maioria pertencia à classe média do país e teve acesso à educação.
Segundo o ministro da Defesa, Ruwan Wijewardene, um dos envolvidos estudou no Reino Unido e fez pós-graduação na Austrália. Wijewardene afirmou também que “a maioria dos [agressores] é bem educada e vem de famílias de classe média ou média alta”.
“Eles são financeiramente independentes e suas famílias têm condição financeira estável”, acrescentou.
O mentor dos ataques
Ao todo, 60 pessoas foram presas, incluindo Mohamed Ibrahim. O governo também apontou o clérigo Zahran Hashim como mentor dos ataques.
Há anos membros da comunidade islâmica do Sri Lanka alertam para o perigo representado por Hashim. Em um vídeo divulgado pelo Estado Islâmico (EI), no qual o grupo assume a responsabilidade pelos ataques, ele aparece ao lado de sete jihadistas.
Nas imagens, vestido com uma túnica preta, Hashim jura lealdade ao líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi. Entre os jihadistas, ele é o único com rosto descoberto. O vídeo seria a primeira evidência concreta de que o EI está por trás do atentado.
A polícia e o governo do Sri Lanka dizem que Hashim lidera o National Thowheeth Jama’ath (NTJ), grupo apontado inicialmente como responsável pela ação. Até o massacre de domingo, ele era quase desconhecido.
Pelas redes sociais, porém, o clérigo atraiu milhares de seguidores com sermões incendiários. Em um deles, ele faz um discurso violento contra não muçulmanos.
“Zahran veio de uma típica família de classe média”, disse Hilmy Ahamed, vice-presidente do Conselho Muçulmano do Sri Lanka. Segundo Ahamed, o clérigo estudou em uma universidade islâmica e foi se radicalizando aos poucos, criando atrito com religiosos locais.
O governo, porém, admitiu que não sabe se Zahran está vivo ou morto. “Acreditamos que os líderes do NTJ também tenham cometido suicídio”, disse Wijewardene, que não confirmou se o clérigo estava entre os homens-bomba – inicialmente, acreditava-se que ele tinha se explodido no hotel Shangri-lá, de Colombo. “Enquanto um exame de DNA não confirmar, não podemos descartar nada.”
Igrejas fechadas
Todas as igrejas católicas do Sri Lanka permanecerão fechadas e suspenderão as missas públicas até que a situação de segurança melhore no país.
“Por conselho das forças de segurança, manteremos todas as igrejas fechadas”, afirmou uma fonte religiosa. “Não vai acontecer nenhuma missa pública até nova ordem”, completou.
Após os atentados, as autoridades reforçaram a segurança ao redor dos templos. A minoria cristã representa 7% da população do Sri Lanka, um país majoritariamente budista (70%).
O governo do Sri Lanka também decretou estado de emergência após os ataques. Um toque de recolher foi imposto e as redes sociais bloqueadas temporariamente.
(Com Estadão Conteúdo e AFP)