Um estudo da revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA), publicado nesta terça-feira, 1, revelou que houve um aumento significativo no tempo de deslocamento para clínicas legais de aborto desde a reversão do direito ao aborto nos Estados Unidos.
Após a decisão da Suprema Corte americana, mais de uma dúzia de estados americanos instituíram proibições completas ou parciais do procedimento. Os pesquisadores consideraram as clínicas de aborto nesses estados inativas, e o número de clínicas ativas foi reduzido a um décimo.
Segundo o estudo, mais de um terço das mulheres em idade reprodutiva nos Estados Unidos vive a mais de uma hora da clínica de aborto mais próxima – mais do que o dobro da proporção antes da reversão do direito. Além disso, o tempo médio de viagem para fazer um aborto mais do que triplicou, de menos de meia hora para mais de uma hora e meia.
Para mulheres que moram nos estados do Texas e Louisiana, o tempo de deslocamento médio para a clínica de aborto mais próxima é de oito horas e meia, sete a mais que a média.
O estudo também ressalta que as minorias foram as mais impactadas pela decisão da Suprema Corte. Uma em cada quatro mulheres negras, bem como quinto das mulheres hispânicas e indígenas, levam uma hora a mais que mulheres brancas para chegar uma clínica de aborto ativa.
Uma análise publicada na sexta-feira 28 pelo #Wecount, projeto liderado pela Sociedade de Planejamento da Família, afirma que houve uma queda no número de abortos de 10 mil, apenas dois meses depois da decisão da Suprema Corte americana – uma queda de 6% em agosto, em comparação com abril.
Além disso, abortos legais diminuíram 95% nos estados que proibiram o aborto, ou implementaram restrições severas. Onde a medida é legal, houve um aumento de 11% nos abortos.
No Texas, o número de abortos cai desde 2021, depois que foi promulgada uma lei estadual que restringiu o procedimento após qualquer atividade cardíaca ser detectada no embrião. Desde então, houve uma queda de mais de 50% no número de procedimentos, e houve um deslocamento cinco vezes maior que nos anos anteriores para abortar em outros estados.
“Os aumentos [dos procedimentos] nos estados onde o acesso é protegido não foram suficientes para compensar as perdas nos estados proibidos”, afirmou Ushma Upadhyay, co-autora do estudo da JAMA, à CNN. “Juntos, esses resultados apontam para uma grande necessidade não atendida de atendimento ao aborto.”
Upadhyay também disse que as mulheres que se enquadram nessa lacuna são aquelas que têm menos condições de viajar. Muitas vezes podem ser adolescentes, imigrantes, vítimas de violência do parceiro e pessoas com filhos pequenos.
Outro fator que inibe a facilidade do aborto é que mesmo que ele seja legal na maioria dos estados, a lista para fazer o procedimento já chega a duas semanas de espera. Esse período de espera pode alterar quais medidas são necessárias para o procedimento. Em 2020, por exemplo, remédios abortivos eram usados em mais da metade dos procedimentos. Mas a orientação federal só aprova o uso destes medicamentos até 10 semanas de gravidez.
Em 2021, cerca de 1.500 pacientes viajaram para a região das Rocky Mountains, que se estendem pelas províncias de Colúmbia Britânica e Alberta, no Canadá, até os estados de Idaho, Montana, Wyoming, Colorado e Novo México. Só no final de setembro de 2022, mais de 300 pacientes de fora do estado agendaram consultas de aborto todas as semanas.