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Telefonemas interceptados pela Ucrânia revelam raiva e desânimo dos russos

Em transcrições de conversas entre soldados russos na Ucrânia, divulgadas pela Reuters, eles se queixam de equipamentos ruins e copiosas baixas no exército

Por Da Redação
5 set 2023, 08h37

O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), a principal agência de inteligência do país, interceptou pelo menos 17 telefonemas de soldados russos em território ucraniano nas duas primeiras semanas de julho, revelou nesta terça-feira, 5, a agência de notícias Reuters. As conversas, muitas vezes carregadas de palavrões, revelam a insatisfação do exército do Kremlin com a guerra, com reclamações sobre equipamentos de má qualidade e profusas baixas entre os combatentes.

Em um dos telefonemas, Andrey, um soldado russo, ligou para sua esposa para dizer que a sua unidade estava sofrendo pesadas baixas. Segundo ele, os soldados estavam tão mal equipados que “pareciam as forças soviéticas na Segunda Guerra Mundial”.

“Sem p*rra de munição, nada… Devemos usar nossos dedos como baionetas?”, perguntou ele.

Embora a Rússia tenha obtido ganhos territoriais modestos em alguns locais na Ucrânia, os telefonemas interceptados revelam que o exército sofre de moral baixo. No entanto, a Reuters afirmou que não é possível dizer até que ponto as conversas são representativas das condições das forças armadas russas, já que a inteligência ucraniana não detalhou como as gravações foram selecionadas.

Tanto a Rússia como a Ucrânia tratam as mortes de seus soldados como segredo de Estado. No entanto, outro soldado russo, Maxim, denunciou grandes perdas.

“É isso. Não sobrou nenhum segundo batalhão. Eles transformaram tudo em migalhas”, disse à sua esposa Anna por telefone em 3 de julho.

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Segundo ele, o batalhão – que normalmente compreende cerca de 500 soldados – estava na linha de frente de Lyman, no nordeste da Ucrânia, uma das três áreas onde o Estado-Maior Ucraniano registrou combates intensos e contra-ataques russos na época. Maxim referiu-se aos seus camaradas mortos como “carga 200”, um termo que nasceu na guerra da União Soviética no Afeganistão (1979-89) como um código militar para os caixões de zinco usados para transportar para casa os corpos dos soldados russos mortos. “Carga 300” denota os feridos.

“Basicamente, eles não conseguiram nem recuperar a (carga) 300. Os 300 tornaram-se 200”, disse Maxim, o que significa que os soldados feridos foram deixados no campo de batalha e morreram.

Um relatório da Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos, divulgado em abril, entre 35.500 e 43.000 soldados russos morreram em combate durante o conflito, enquanto a Ucrânia perdeu cerca de 15.500-17.500. A Rússia acusa as estimativas americanas de serem altas demais e “propaganda ocidental”.

Em setembro do ano passado, o Kremlin iniciou uma mobilização parcial para reforçar sua presença na Ucrânia. Um dos reservistas convocados foi Alexei, que telefonou para sua mãe, Elena, nove meses depois falando sobre as perdas no campo de batalha.

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“Eles foram dilacerados. Não conseguem nem coletar alguns deles. Eles já estão podres – comidos por vermes”, ele disse a ela em 12 de julho.

Alexei ridicularizou seus superiores e o alto comando do exército por ocultarem as baixas.

“Está tudo encoberto”, disse. “No final, os generais não estão nem aí.”

Ele também falou que os soldados mobilizados estavam sendo enviadas para a linha da frente, ao contrário do que disse o presidente russo, Vladimir Putin. Além disso, afirmou que o exército não estava recebendo equipamento adequado para lutar.

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“Imagine, jogado na linha de frente sem equipamento, nada”, completou.

Segundo o SBU, Alexei estava localizado nas trincheiras russas ao redor da cidade ocupada de Rubizhne, na região oriental de Luhansk, na Ucrânia.

Autoridades russas disseram que não há planos para uma nova onda de mobilização . Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança russo, disse em julho que 185 mil novos recrutas se juntaram ao exército como soldados profissionais contratados desde o início do ano. O Ministério da Defesa da Rússia afirmou duplicou a sua meta de gastos deste ano para mais de US$ 100 bilhões – um terço de todas as despesas públicas.

Um quarto soldado, também chamado Andrey, contou à sua esposa, em 5 de julho, sobre os problemas na recuperação de soldados feridos e mortos do campo de batalha, bem como sobre as pesadas baixas sofridas por sua unidade.

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De acordo com o SBU, o soldado era vice-comandante de um veículo de combate.

“Os caras se f*deram ontem. Toda a nona unidade virou lixo – eram 72 pessoas. Restam 17 caras.”

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