Talibã realiza primeira execução pública desde que voltou ao poder
Ato ocorre algumas semanas depois do líder supremo ordenar o retorno da lei sharia, que permite torturas, execuções e amputações públicas
O Talibã realizou nesta quarta-feira, 7, a sua primeira execução pública de um criminoso condenado desde que voltou ao poder no Afeganistão, em 15 de agosto do ano passado.
A prática era comum durante os primeiros anos em que o grupo fundamentalista esteve no comando do país, entre 1996 e 2001, devido à sua leitura da lei islâmica tradicional, a sharia.
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De acordo com o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, um homem foi morto em um estádio de futebol lotado na província de Farah, no sudoeste afegão, após se declarar culpado de um assassinato. Dezenas de líderes, incluindo a maioria dos ministros que compõem o governo, estiveram presentes para assistir a execução.
Mohammad Khaled Hanafi, acusado de impor a estrita interpretação da lei islâmica pelo Talibã como ministro do Vício e da Virtude, foi um dos que compareceram, enquanto o primeiro-ministro Hasan Akhund faltou à execução.
Segundo os fundamentalistas, o morto era Tajmir, morador da província de Herat, que havia esfaqueado um outro homem havia cinco anos. Posteriormente, ele foi condenado por três tribunais do Talibã e sua sentença foi aprovada pelo mulá Akhundzada.
O ato contou ainda com um edital de divulgação, que pedia a todos os cidadãos que se juntassem ao governo no campo esportivo.
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À rede BBC, a mãe da vítima disse que o Talibã chegou a implorar para que ela perdoasse Tajmir, mas ela insistiu em sua execução.
“Eles vieram até mim e me imploraram para perdoar esse infiel. Eles insistem que eu perdoe este homem em nome de Deus, mas eu disse a eles que este homem deve ser executado e enterrado da mesma forma que fez com meu filho. Isso pode ser uma lição para outras pessoas”, acrescentou.
A medida acontece algumas semanas depois que o líder supremo do Talibã, Haibatullah Akhundzada, emitiu um decreto ordenando que juízes apliquem punições que podem incluir execuções e amputações públicas, além de apedrejamentos. No entanto, os crimes exatos e as punições correspondentes não foram definidos oficialmente pelo grupo.
Embora tenha sido registrada uma série de chicoteamentos ao longo deste ano, inclusive o de uma dúzia de pessoas em um estádio na província de Logar no mês passado, esta é a primeira vez que os fundamentalistas reconhecem publicamente a realização de uma execução.
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Esta é mais uma das promessas que foram quebradas pelo grupo islâmico desde que assumiu o poder, o que fez com que a comunidade internacional não reconhecesse o governo e levou a um bloqueio de US$ 600 milhões (R$ 3,1 bilhões) pelo Banco Mundial.