Com uma cidade atrás da outra caindo nas mãos do Talibã, é questão de horas até que os radicais islâmicos adentrem Cabul, a capital do Afeganistão. Milhares de pessoas que abandonaram seus vilarejos, aterrorizadas pelas forças extremistas, buscam refúgio na cidade, que não conta mais com o apoio das tropas americanas, pelo menos não dentro do território afegão. Depois de mais de 80 bilhões de dólares gastos, os Estados Unidos, a maior potência militar do planeta, deixou as bases aos cuidados do governo local e deu por encerrada (ou assim parece) a guerra que travou com o Talibã por quase duas décadas, desde o ataque terrorista às Torres Gêmeas, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, que resultou na perda de quase 3000 vidas. O aniversário de 20 anos do ataque é no próximo 11 de setembro, o que tem deixado as autoridades em estado de alerta, temendo novos atentados.
Aparentemente, os americanos subestimaram mais uma vez o inimigo, que, se não for detido, deverá derrubar o governo local e restabelecer sua doutrina, que pode desestabilizar toda a região centro-sul da Ásia. Como o Talibã tem conexão com grupos extremistas de outros países, não está descartado que o terrorismo internacional ganhe impulso, acalentado pela sabor da vitória.
A região já passa por um ponto de inflexão, com atentados feitos com carros-bombas na fronteira com o Paquistão em aparente retaliação à presença chinesa no sul da Ásia. A embaixada americana recebeu ordem de Washington para ser evacuada imediatamente, uma vez que o exército inimigo já controla o norte, o sul e o leste de Cabul. Cerca de 5000 soldados americanos teriam sido convocados para ajudar na evacuação, enquanto senadores republicanos exortam o presidente Joe Biden a agir, promovendo ataques aéreos partindo de pistas de pouso de fora do país. Segundo os republicanos, Biden teria cometido um erro estratégico e agora precisa fazer algo para que o governo local não seja dizimado.
Segundo informação do próprio governo afegão, o Talibã já tomou 19 dos 34 distritos. O presidente Ashraf Ghani teme que seu país mergulhe em total instabilidade e que a violência atinja níveis de extermínio, conforme as tropas insurgentes passem a retaliar, em um processo semelhante ao que aconteceu no Camboja entre 1975 e 1979, depois da evacuação das tropas americanas do sudeste asiático. Biden estaria reunido com generais do Exército, mas ainda não fez nenhuma declaração pública a respeito da crise. Os guerrilheiros já estariam em posse de dezenas de helicópteros Blackhawk, que podem ser usados contra a resistência. As aeronaves de guerra, no valor de milhões de dólares, foram deixadas para as forças militares legalistas, mas logo caíram nas mãos dos insurgentes islâmicos. As próximas horas serão decisivas para o futuro dessa nação e de grande parte da região.