Depois de duas semanas presos em uma caverna na Tailândia, os doze meninos integrantes do time de futebol Javali Selvagem e o técnico enfrentam o desafio de superar as sequelas em sua saúde da permanência em um local escuro, úmido, sem alimentos e nenhum conforto por tão longo tempo.
Todos já estão no hospital, onde passam por uma série de exames para verificar se não apresentam doenças graves. Até o momento, dois dos garotos apresentaram pneumonia, embora não estejam em estado grave. Os últimos cinco resgatados de hoje (10) ainda estão sendo examinados.
Ficar por um longo período de tempo preso em uma caverna pode trazer uma série de problemas de saúde, principalmente de natureza infecciosa. O tempo de incubação de uma infecção – ou seja, o período entre a exposição da pessoa aos agentes infecciosos até a apresentação dos primeiros sintomas – pode levar algumas semanas. Por isso, o time ficará em isolamento por pelo menos sete dias, segundo os médicos.
A principal preocupação dos médicos é com a histoplasmose, conhecida como doença da caverna. Ela é contraída a partir do contato com dejetos de aves e morcegos – habitantes comuns destes locais.
“A histoplasmose é contraída pela inalação. As fezes desses animais possuem um fungo que quando inalado causa problemas pulmonares”, explica Leonardo Weissmann, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia. “No interior de uma caverna, pode ocorrer o levantamento de poeira, o que movimenta esses fungos e os leva a ser inalado por uma pessoa”.
Uma vez no pulmão, o fungo causa sangramento e pode levar a morte. Segundo o infectologista, outros órgãos também podem apresentar problemas, como o baço. Entre os principais sintomas da doença da caverna estão a febre, tosse seca, dores no peito, perda de apetite – e, por consequência, de peso. Até o momento, nenhum dos meninos apresentou esses sintomas de forma recorrente.
A raiva também é uma doença comum de ser contraída em cavernas, já que o morcego também é seu vetor. Causada por um vírus, a raiva compromete o Sistema Nervoso Central e pode levar a sintomas como fobias agudas, paralisia. Também pode ser fatal. Outra doença preocupante é a leptospirose, transmitida a partir da urina de animais e que costuma ser encontrada em locais inundados.
A condição da água na qual os meninos estiveram em contato durante esse período também pode ser um fator de doenças. Uma delas é a hepatite A, adquirida pelo contato com água ou alimentos contaminados com o vírus. Seu tempo de encubação pode se estender por até 50 dias. A cólera também pode ser contraída por água contaminada. Ela causa infecções intestinais agudas que, se não tratadas, podem levar a óbito.
Weissmann explica que o período de encubação de uma doença é variável e depende do estado físico do paciente. Algumas dessas doenças têm período de uma a três semanas. “Por isso, mesmo após receber alta, esses meninos terão de ter uma vigilância, porque algumas doenças podem demorar a se manifestar”.
Os médicos já adiantaram que os meninos resgatados nos dois dias anteriores apresentam bom ânimo e um sistema imunológico forte, devido principalmente ao fato de todos serem atletas. Eles já estão recebendo tratamentos contra desnutrição, já que ficaram nove dias sem comer, e receberam vacinas preventivas de tétano e raiva.
Os pais ainda não tiveram contato com os garotos. Eles podem observá-los apenas através de um vidro de isolamento. Resta agora conhecer o estado de saúde do técnico e do últimos 4 meninos resgatados hoje.