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Soldados russos acusam superiores de prendê-los por se recusarem a lutar

Relatos se somam às crescentes evidências de que algumas unidades russas estão sendo constantemente atormentadas por moral baixa e conflitos internos

Por Matheus Deccache 2 ago 2022, 17h17

Um grupo de soldados da Rússia acusou nesta terça-feira, 2, seus comandantes por detenções no leste da Ucrânia por se recusarem a participar da guerra, em uma rara exposição das tensões dentro do Exército russo desde o início da invasão, em 24 de fevereiro. 

De acordo com o advogado Maxim Grebenyuk, que dirige a organização de advocacia Military Ombudsman, com sede em Moscou, pelo menos quatro soldados apresentaram queixas por escrito ao comitê investigativo, exigindo punições para seus superiores responsáveis pela detenção. 

+ Rússia acusa EUA de envolvimento direto na guerra da Ucrânia

“Já temos uma lista de 70 soldados russos que foram mantidos como prisioneiros. No total, cerca de 140 foram detidos”, acrescentou Grebenyuk, que representou os militares.

Em depoimento escrito e enviado para promotores russos na última segunda-feira, um soldado descreveu como, depois de se recusar a retornar ao campo de batalha, foi preso por mais de uma semana em diferentes celas no território controlado pelos russos de Luhansk. 

“Como resultado do que acredito terem sido erros táticos e estratégicos cometidos por meus comandantes e seu total descaso pela vida humana, tomei a decisão de não continuar na operação militar”, disse um dos soldados no documento.

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Segundo seu relato, ele foi detido em 19 de julho e colocado em uma sala com grades na janela, onde foi mantido com outros 25 integrantes de sua unidade que também se recusaram a lutar. Pouco depois, ele foi enviado para uma escola que funciona como uma prisão improvisada, onde foi mantido preso com outros 80 soldados de outras unidades. 

+ Suprema Corte russa define batalhão da Ucrânia como grupo terrorista

O militar disse ainda que eles foram detidos por membros da empresa militar privada Wagner, uma organização notória que foi acusada de cometer abusos de direitos humanos enquanto lutava ao lado de militares russos na Ucrânia. 

“Nos disseram que as minas foram colocadas fora da base militar e que quem tentasse fugir seria considerado inimigo e fuzilado no local. Nós éramos alimentados uma vez por dia e não havia higiene básica”, escreveu o soldado, completando que em nenhum momento foi fornecido um documento que explicasse a prisão. 

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A prisão de membros do Exército, relatada pela primeira vez na semana passada pelo canal de investigação independente Insider, aumenta as crescentes evidências de que algumas unidades russas estão sendo constantemente atormentadas por uma moral baixa e conflitos internos. 

Vários documentos anteriores já haviam revelado que centenas de soldados foram detidos por se recusar a lutar na guerra, mas é a primeira vez que testemunhos oficiais com detalhes das detenções vêm à tona. 

O Kremlin não declarou guerra oficialmente à Ucrânia, o que, segundo especialistas, significa que soldados contratados que optarem por não entrar em combate podem ser demitidos, mas não processados ou presos. 

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+ Ucrânia consegue exportar grãos pela primeira vez desde invasão da Rússia

Ainda segundo os relatos, os oficiais superiores do Exército russo tentavam constantemente mudar a opinião dos encarcerados, o que evidencia uma possível falta de contingente ao longo do sexto mês de guerra. De acordo com os relatórios de inteligência feitos por países do Ocidente, a Rússia será forçada a interromper a invasão em breve, uma vez que irá faltar combatentes. 

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