Soldados australianos serão julgados por crimes de guerra no Afeganistão
Militares são acusados de realizar execuções sumárias e cortar as gargantas de civis em 23 ocasiões
O governo da Austrália divulgou nesta quinta-feira, 19, um relatório em que acusa 39 integrantes de suas forças especiais de cometerem crimes de guerra no Afeganistão. O texto, que recomenda a punição a dezenove suspeitos, é resultado de quatros anos de investigação e mostra que 39 civis afegãos foram assassinados a sangue frio entre 2005 e 2016 em, ao menos, 23 ocasiões.
O relatório de 465 páginas também inclui evidências de que um pequeno número de soldados das tropas estiveram envolvidas em “competições de contagem de cadáveres”, além de realizarem o “batismo de sangue” nos novatos da tropa, que consistia em forçar o recruta a matar um afegão já sob custódia. Em alguns casos, as gargantas das vítimas eram cortadas.
Segundo a acusação, as vítimas eram inocentes ou ex-combatentes que não ofereciam resistência. Os corpos eram fotografados com armas e celulares ao lado, o que indicaria um confronto com os soldados e justificaria as mortes. Os soldados sentiam prazer e se divertiam com a cena, segundo a investigação.
“Algumas patrulhas ignoraram a lei, regras foram quebradas, histórias foram inventadas, mentiras foram contadas, e prisioneiros foram mortos”, disse o general Angus Campbell, a principal autoridade do Exército australiano.
O relatório recomenda que dezenove pessoas sejam entregues à Polícia Federal da Austrália, que uma indenização seja paga às famílias das vítimas e que o Exército realize uma série de reformas. Os nomes dos envolvidos foram mantidos em sigilo. Campbell disse que irá fazer reformas no Exército, incluindo todas as 143 recomendações que o relatório traz.
“Para as pessoas do Afeganistão, em nome das Forças de Defesa da Austrália, eu peço sinceramente desculpas pelo comportamento dos soldados australianos”, disse.
O Ministério das Relações Exteriores do Afeganistão classificou as ações do relatório como “imperdoáveis”, mas reconheceu sua divulgação como um “passo importante em direção à justiça”.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, mais de 26.000 soldados australianos foram enviados para o Afeganistão para lutarem ao lado dos Estados Unidos e das forças aliadas contra os talibãs, a rede Al Qaeda e outros grupos terroristas. As tropas de combate australianas deixaram o país em 2013. Em 2017, os relatos sobre as violações de direitos humanos vieram à publico quando a emissora ABC divulgou uma série de investigações acusando os soldados de matarem homens e crianças desarmados no Afeganistão.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) com sede em Haia, nos Países Baixos, iniciou em março uma investigação para apurar crimes de guerra cometidos no Afeganistão. A procuradora responsável pelo caso, Fatou Bensouda, já coletava informações sobre os crimes contra a humanidade cometidos pelo Talibã e pelas forças de seguranças afegãs desde 2006 e afirmou que também tinha provas para acusar soldados americanos de crimes de guerra. Como resposta, a Casa Branca sancionou Bensouda e cassou seu visto de entrada, além de não reconhecer a legitimidade do tribunal.