Sob pressão da China, Taiwan anuncia aumento de US$ 40 bi em gastos com defesa
Presidente William Lai afirma que incremento ao longo de oito anos visa 'defender democracia' ao criar custos e incertezas maiores para possível invasão
O presidente de Taiwan, Lai Ching-te, anunciou nesta quarta-feira, 26, um aumento sem precedentes nos gastos com defesa, no valor de US$ 40 bilhões ao longo dos próximos oito anos. Ele descreveu a medida como um investimento para salvaguardar a democracia da pequena ilha e dissuadir possíveis agressões de Pequim. A China sustenta que Taiwan faz parte de seu território e acusa Lai de separatismo.
Em um artigo publicano no jornal americano The Washington Post nesta quarta, o presidente taiwanês disse que seu governo se comprometeu a “aumentar significativamente” os gastos militares para 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano e, em seguida, elevá-los ainda mais para 5% até 2030.
“Como parte desse esforço, meu governo apresentará um orçamento suplementar de defesa histórico de US$ 40 bilhões, um investimento que reforça nosso compromisso com a defesa da democracia de Taiwan”, escreveu ele.
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Lai afirmou que o pacote não apenas apoiaria novas e importantes aquisições de armas dos Estados Unidos, mas também expandiria as capacidades assimétricas de Taiwan.
“Nosso objetivo é reforçar a dissuasão, inserindo maiores custos e incertezas na tomada de decisões de Pequim sobre o uso da força”, escreveu ele.
Lai não explicou como Taiwan financiaria o aumento nos gastos com defesa, mas críticos já haviam alertado que o orçamento do bem-estar social e outros serviços poderiam ser prejudicados, visto que a ilha tem um déficit que precisa financiar por empréstimos.
Ameaça chinesa
Em coletiva de imprensa em Taipei, Lai afirmou que os US$ 40 bilhões adicionais serão acrescentados ao orçamento de defesa até 2033. Ele alertou que Pequim pretende estar pronta para invadir a ilha até 2027, citando exercícios militares amplos realizados pela China continental ao redor do território nos últimos dois anos.
Operações com drones, ataques a cabos submarinos, incursões quase diárias de aviões de guerra e outras operações, disse ele, visam desgastar a soberania de Taiwan e reduzir seu tempo de reação. O presidente também reiterou seu argumento de que Taiwan e a China continental “não são subordinados um ao outro” – declarações que anteriormente levaram Pequim a rotulá-lo de “separatista perigoso” – e disse que o futuro da ilha deve ser decidido exclusivamente por seus 23 milhões de habitantes. O conflito fundamental, argumentou ele, “não é unificação versus independência, mas a recusa em transformar uma Taiwan democrática em uma Taiwan chinesa”.
Lai declarou ainda que Taipei elaborou dois planos de ação para “Salvaguardar a Taiwan Democrática” – um para neutralizar as mensagens e a pressão legal de Pequim internacionalmente, e outro para fortalecer o poderio militar e desenvolver a indústria de defesa.
O Ministro da Defesa, Koo Li-hsiung, que também estava presente na coletiva de imprensa, delineou um amplo programa de modernização centrado no Escudo de Taiwan, também conhecido como T-Dome. Se trata de um sistema de defesa aérea e antimíssil multicamadas, apoiado por ferramentas de decisão auxiliadas por inteligência artificial (IA) .
Koo afirmou que, além das defesas aéreas e antimísseis, o plano inclui ainda o aprimoramento em termos de mísseis de ataque de precisão de longo alcance, artilharia de precisão, drones de vigilância e ataque, bem como embarcações de superfície não tripuladas. Há também um projeto para expandir a produção e os estoques de munição, elementos como “fogo de desgaste multicamadas” ao longo das praias que poderiam ser invadidas primeiro e sistemas de resposta rápida não tripulados.
Segundo o ministro, os gastos são modestos em comparação com países como Japão, Coreia do Sul e Austrália, e refletem a “posição de linha de frente” taiwanesa contra Pequim.
Apoio dos EUA e rejeição da China
A proposta recebeu apoio imediato de Washington. Raymond Greene, diretor do Instituto Americano em Taiwan – a embaixada de facto – disse que os Estados Unidos acolhem o plano e apoiam o esforço de Taiwan para adquirir rapidamente “capacidades assimétricas essenciais”.
“Taiwan se junta a parceiros de toda a Europa, do Japão à Coreia do Sul, que estão fazendo investimentos críticos em defesa, necessários para dissuadir desafios sem precedentes à paz e à prosperidade globais”, disse ele.
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O Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados americana celebrou a iniciativa, afirmando em uma publicação nas redes sociais que se tratava de “um grande passo para a defesa e segurança de Taiwan em toda a região Indo-Pacífica” e descrevendo a ilha como uma parceira “disposta a investir recursos significativos para derrotar adversários regionais”.
Pequim, por sua vez, criticou as declarações com veemência. “A posição da China de se opor a qualquer interação oficial ou militar entre os Estados Unidos e Taiwan permanece consistente”, afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, na quarta-feira.
Ela acrescentou que o Partido Democrático Progressista de Lai não conseguirá “resistir à reunificação ou buscar a independência por meios militares”.
Pequim considera Taiwan parte da China, a ser reunificada pela força, se necessário. A pressão sobre Taiwan aumentou desde que Lai assumiu o cargo no ano passado.
A maioria dos países, incluindo seu principal parceiro internacional, os Estados Unidos, não reconhece Taiwan como um Estado independente. No entanto, Washington se opõe a qualquer tentativa de tomar a ilha pela força e está legalmente obrigado a fornecer armas para sua defesa.
“A reconciliação também exige força – sem ela, a reconciliação se torna rendição”, declarou Lai.
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