Shows na fronteira marcam duelo entre governo e oposição na Venezuela
Evento organizado pela oposição espera arrecadar ao menos 100 milhões de dólares para ajuda alimentar e médica
Dois shows simultâneos marcam nesta sexta-feira, 22, uma nova disputa pelo poder na Venezuela, antes da arriscada aposta da oposição de conseguir a entrada de ajuda humanitária no país, apesar do bloqueio do governo de Nicolás Maduro.
De um lado, no evento organizado pelo autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, milhares de venezuelanos e colombianos ignoram o forte calor na cidade de Cúcuta, na fronteira da Colômbia com a Venezuela, para assistir às estrelas que apoiam a oposição venezuelana.
O “Venezuela Aid Live” foi organizado pelo bilionário britânico Richard Branson com o objetivo de arrecadar ajuda para o país, que enfrenta uma intensa crise, que inclui escassez de produtos básicos e hiperinflação.
“O que já foi o país mais rico da América Latina é agora o mais pobre, e isso é inaceitável. Façamos de hoje um dia de esperança para toda a Venezuela”, disse Branson no palco.
Os organizadores esperam ao menos 250.000 pessoas na região da ponte internacional Tienditas. “Será um dia mágico”, acrescentou o magnata em coletiva de imprensa prévia.
Do lado venezuelano, operários e soldados ainda preparam o evento anunciado por Nicolás Maduro. O show do governo acontece a apenas 300 metros do local do show de Branson, sob os slogans ‘Para a guerra, nada’ e ‘Hands off Venezuela’ (Tirem as mãos da Venezuela).
Segundo a imprensa venezuelana e colombiana, contudo, há poucas pessoas reunidas aguardando o início do espetáculo. Até o momento também não foram anunciadas a atrações que se apresentarão.
Os produtores do evento na Colômbia afirmam que, apesar da proximidade, dificilmente o som de um show vai interferir no outro.
“Venezuela Aid”
O show “Venezuela Aid Live” é apoiado pelo líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por quase 50 países.
A primeira artista no palco foi a venezuelana Reymar Perdomo, que com a canção “Me fui”, suscitou a histeria entre os presentes, já que essa música é considerada o “hino da indignação” pela situação do país.
“A partir deste momento, nosso país vai ser diferente e livre. A Venezuela é muito mais do que petróleo”, manifestou um dos apresentadores do espetáculo.
Perdomo, que deixou o país há alguns de anos pela escassez de alimentos e remédios, agradeceu aos presentes. “Obrigado por transformar esta canção no hino da imigração venezuelana. Viva a Venezuela!”.
No total serão 32 artistas de Argentina, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, México, Porto Rico, Suécia e Venezuela que participarão do concerto, dividido em cinco blocos.
O quarto e quinto blocos são os mais esperados, porque neles estão os artistas de maior reconhecimento, como Maluma, Fonseca, Nacho, Silvestre Dangond e Luis Fonsi.
O encerramento do show deve contar com as presenças dos presidentes da Colômbia, Iván Duque, do Chile, Sebastián Piñera, e do Paraguai, Mario Abdo.
Ajuda humanitária
O objetivo do evento organizado pela oposição é pressionar o governo de Maduro a liberar a entrada de ajuda humanitária na Venezuela. A expectativa é de que também sejam arrecadados ao menos 100 milhões de dólares para ajuda alimentar e médica.
Brasil, Colômbia e Estados Unidos se mobilizam para enviar doações aos venezuelanos. Canadá e União Europeia (UE) também anunciaram ajuda em dinheiro, destinada principalmente aos refugiados do país.
Maduro, contudo, afirma que os donativos são um “presente podre” que carrega o “veneno da humilhação”, apesar de reconhecer as dificuldades que a Venezuela atravessa. O chavista também já disse que não permitirá a entrada das doações, pois são uma tentativa de “invasão estrangeira”.
O evento planejado pelo presidente para este final de semana foi destinado justamente a denunciar a “agressão” a que os países vizinhos da Venezuela estão tentando submeter o país ao enviar doações aos cidadãos, segundo Maduro.
Desde a noite de quinta-feira, 21, a fronteira entre a Venezuela e o Estado de Roraima está fechada pelos militares chavistas. Nesta sexta, militares abriram fogo contra um grupo de civis que tentava manter aberta uma passagem na região, matando dois indígenas e deixando 14 feridos.
(Com EFE e AFP)