Senador dos EUA é constrangido por vítima de abuso sexual
Jeff Flake, do Arizona, disse que votará pela confirmação, para a Corte Suprema americana, de juiz acusado de tentativa de estupro
Depois de anunciar que poderia votar em favor da nomeação do juiz Brett Kavanaugh para a Corte Suprema dos Estados Unidos, o senador republicano Jeff Flake foi cobrado por duas mulheres por ignorar o sofrimento das vítimas de abuso sexual. O embate se deu quando Flake entrou em elevador do Senado, e as mulheres impediram o fechamento da porta.
Uma das manifestantes disse ter sido vítima de estupro. Ela foi identificada por um grupo de defesa de imigrantes como Maria Gallagher. Emocionalmente afetadas pela decisão do Comitê de Judiciário do Senado de aprovar a indicação de Kavanaugh e enviá-la ao plenário da Casa, ambas constrangeram o senador do Arizona.
“O que você estão fazendo é permitir que alguém que violou uma mulher se sente na Suprema Corte”, afirmou Ana Maria Archila, executiva do Centro para a Democracia Popular. “Isto é horrível. Você tem filhos, pense neles.”
“Você está dizendo para todas as mulheres que elas não importam, que elas simplesmente devem ficar em silêncio porque se elas contarem para você o que fizeram a elas, você vai ignorá-las”, afirmou a outra mulher, que dissera ter sido estuprada.
Flake viu-se sem saída. Atrás das mulheres, que exigiam dele respostas, a imprensa registrava o episódio e pressionava o senador a responder a elas. O republicano, porém, limitou-se a abaixar os olhos e a repetidamente dizer “obrigado”.
“Olhe para mim. Eu estou falando com você. Você está me dizendo que o meu estupro não importa, que o que aconteceu comigo não importa e que você vai deixar pessoas que fazem isso (estupram) chegar ao poder. Não desvie o olhar”, disse a mulher não identificada.
“Obrigado”, respondeu ele.
“Dizer obrigado não é uma resposta. Isto diz respeito ao futuro do nosso país, senhor.”
Minutos antes, no Comitê de Judiciário do Senado, Flake havia dito que as audiências de ontem não o haviam convencido de que Kavanaugh havia tentado estuprar Christine Blasey Ford em 1982, quando ambos eram estudantes. Os senadores haviam inquerido ambos, em audiências separadas. Ford dissera ter 100% de certeza de que fora atacada por Kavanaugh. O juiz disse ter 100% de certeza de que não a atacou.
“Eu gostaria de poder expressar a certeza que alguns dos meus colegas transmitiram sobre o que aconteceu ou não no início dos anos 1980. Mas eu deixei as audiências, ontem, com mais dúvidas do que certezas”, afirmara no Comitê. “Eu vou votar pela confirmação do juiz Kavanaugh”, completara.
Juiz da Corte de Apelação da capital americana, Kavanaugh foi indicado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a vaga do ministro Anthony Kennedy na Suprema Corte. Sua presença fortalecerá o caráter conservador do mais alto tribunal da Justiça dos Estados Unidos. Kavanaugh já indicou seu desejo de rever causas já decididas pela corte. Entre elas, as que tratam de aborto.
Hoje, o Comitê decidiu por uma checagem do histórico de Kavanaugh pelo FBI antes da votação no plenário de sua confirmação. A proposta foi apoiada por Flake. Mas a checagem está longe de ser uma investigação sobre o caso e deve ser concluída em uma semana.
A ordem ao FBI para checar o histórico do juiz Brett Kavanaugh partiu do próprio Trump. “Ordenei ao FBI que realize uma investigação complementar para atualizar o expediente do juiz Kavanaugh. Como pedido pelo Senado, esta atualização deverá estar limitada (às acusações) e concluída em menos de uma semana”, disse o presidente, por meio de um comunicado.
(Com EFE)