Quarta maior cidade de Moçambique, com 500 000 habitantes, Beira, às margens do Oceano Índico, é hoje uma localidade devastada, “90% destruída”, segundo balanço da Cruz Vermelha. Foi em suas praias que o ciclone Idai se abateu sobre a África, com chuvas torrenciais e ventos de 180 quilômetros por hora, na noite da quinta-feira 14, e de lá seguiu para o interior, arrasando tudo na sua passagem. Estradas desapareceram. Pontes caíram. Represas desmoronaram. Quando o dia rompeu, cerca de 50 quilômetros de terras inundadas faziam a região de Beira parecer um prosseguimento do mar. A população passou os dias seguintes fugindo das áreas alagadas, carregando o que conseguisse salvar do desastre. Milhares aguardam socorro em locais só acessíveis por helicóptero, há dias sem comida nem água potável. A contagem oficial, cinco dias depois da passagem do Idai, era de 202 mortos, mas o presidente Filipe Nyusi sobrevoou a área e advertiu que podem ser mais de 1 000 as vítimas do pior desastre natural do continente nos últimos vinte anos. Calcula-se que 1,7 milhão de moçambicanos vivam na rota do ciclone. Os vizinhos Zimbábue e Malaui também foram atingidos. O escritor Mia Couto, que nasceu em Beira e está escrevendo um livro sobre recordações dos tempos de criança, se disse “quase tão destruído” quanto a cidade. “Estava determinado a ir para Beira para mergulhar no espírito do lugar, e agora, segundo me dizem, quase não há lugar. É como se me tivessem arrancado parte da infância”, lamentou.
Publicado em VEJA de 27 de março de 2019, edição nº 2627
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