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Sem mencionar Milei, Lula diz que ‘ultraliberalismo só piora desigualdade’

Discurso do petista em cúpula do Mercosul, à qual o líder argentino faltou em favor de reunião com Bolsonaro, criticou 'extremismo e intolerância'

Por Amanda Péchy
Atualizado em 8 jul 2024, 17h54 - Publicado em 8 jul 2024, 12h54

Durante o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira, 8, na cúpula do Mercosul, em Assunção, no Paraguai, ficou marcada a ausência de Javier Milei, presidente de extrema direita da Argentina, segundo mais importante membro do bloco de países sul-americanos. Apesar de o petista não o ter mencionado diretamente, semelhante ao que fez o próprio chefe da Casa Rosada em um discurso na véspera, cutucou o líder vizinho ao dizer que o ultraliberalismo, corrente econômico-social defendida por Milei, “apenas agravou as desigualdades” na América Latina.

“Não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista, tão pouco à justificativa para resgatar experiências ultraliberais que apenas agravaram desigualdades na nossa região”, declarou Lula. “Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários.”

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Milei faltou à cúpula em favor de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro em Balneário Camboriú, Santa Catarina, onde também fez o discurso de encerramento da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), que reuniu uma série de expoentes e referências da direita nacional e internacional.

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Foi a primeira visita do argentino ao Brasil e ele não marcou agenda oficial com Lula. Além disso, os dois estão envolvidos no mais recente de uma série de conflitos diplomáticos envolvendo trocas de ofensas, desde que Milei ascendeu ao cargo em dezembro.

“O Mercosul é resiliente e tem sobrevivido aos difíceis anos de desintegração. Pensar igual nunca foi critério para engajamento construtivo nas tarefas do bloco. A diversidade de opiniões, sem extremismos e intolerância, é bem-vinda”, afirmou Lula no discurso, em aparente referência às desavenças com o homólogo argentino.

Relações difíceis

Depois de uma melhora de relacionamento entre Brasil e Argentina, o encontro de Milei com Bolsonaro e a ausência do mandatário na cúpula do Mercosul podem representar uma piora das relações bilaterais entre os dois países.

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No final de junho, Lula disse acreditar que Milei deve a ele e aos brasileiros um pedido de desculpas por ter dito “um monte de coisas estúpidas” sobre o Brasil, principal parceiro comercial da Argentina. Em resposta, o argentino se recusou a pedir perdão ao homólogo brasileiro e o descreveu como um “canhoto” com “ego inflado”. O imbróglio ocorreu após a Polícia Federal pedir a extradição de foragidos do ataque de 8 de Janeiro que pediram asilo político à Argentina.

Na semana passada, em postagem no X, antigo Twitter, intitulada “Dinossauro perfeitamente idiota”, Milei voltou a chamar Lula de “corrupto” e “comunista” e acusou o petista de “interferência” na corrida presidencial argentina de 2023. O argentino, porém, não especificou o nome a quem se refere como dinossauro.

Durantes as eleições presidenciais argentinas, a família Bolsonaro apoiou a candidatura de Milei, com quem também manteve reuniões presenciais e virtuais no período. Além disso, o mandatário argentino também convidou Jair Bolsonaro para sua cerimônia de posse. Enquanto isso, Lula apoiou o ex-ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, no pleito e não compareceu à posse de Milei.

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Cúpula do Mercosul

No encontro em Assunção, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, passará a presidência rotativa do bloco ao líder do Uruguai, Luis Lacalle Pou. Em seguida, na terça-feira, 9, Lula segue para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, novata no Mercosul, para visita oficial e encontro bilateral com o presidente Luis Arce, pouco depois de uma tentativa de golpe no país.

“Há menos de quinze dias, um membro de nosso bloco sofreu uma tentativa de golpe. A democracia prevaleceu graças à firmeza do governo boliviano, à mobilização do seu povo e ao rechaço da comunidade internacional”, disse o petista no discurso. “Enquanto nossa região seguir entre as mais desiguais do mundo, a estabilidade política permanecerá ameaçada. Democracia e desenvolvimento andam lado-a-lado”.

A ênfase dada por Lula à gravidade do episódio vai na contramão de uma narrativa, levantada por Evo Morales – ex-presidente boliviano e rival político de Arce – e por Milei, de que o ocorrido não passaria de um “falso golpe” para aumentar a popularidade de um governo que luta com índices de aprovação baixos.

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O presidente brasileiro também ressaltou que a adesão da Bolívia ao Mercosul “tem enorme valor estratégico” porque faz do bloco “ator incontornável no contexto da transição energética”. O país sul-americano é uma das três pontas do “Triângulo do Lítio”, também composto de Argentina e Chile, onde ficam cerca de 60% das reservas mundiais do mineral essencial para a produção de carros elétricos e a evolução de uma economia de baixo carbono.

“Somos ricos em recursos minerais e possuímos abundantes fontes de energia limpa e barata. Temos tudo para nos tornar um elo importante na cadeia de semicondutores, baterias e painéis solares. Podemos formar uma aliança de produtores de minerais críticos para que os benefícios do processamento desses recursos fiquem em nossos países”, declarou Lula.

+ Promessas de Lula no exterior têm efeito econômico restrito para o Brasil

Ele destacou ainda a relevância do Mercosul perante o mundo, dizendo que os membros têm uma escolha: enfrentar as atuais disputas geopolíticas individualmente ou como um bloco integrado e mais forte.

“Minha aposta no Mercosul como plataforma de inserção internacional e de desenvolvimento do Brasil permanece inabalável”, afirmou, destacando o acordo de livre comércio assinado entre o grupo sul-americano e Singapura e o desenvolvimento de pacto semelhante com os Emirados Árabes Unidos. “Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas”, alfinetou.

Negociado há vinte anos e assinado em 2019, o pacto UE-Mercosul nunca entrou em vigor, embora houvesse altas expectativas para que isso ocorresse em dezembro passado.

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