O governo da França está acelerando a transferência de pessoas em situação de rua de Paris para outras partes do país, como parte de um plano para aliviar a pressão sobre os serviços de abrigo de emergência da capital. A cada semana, entre 50 e 150 pessoas são levadas para um dos 10 locais em toda a França.
Apesar da negação do governo de qualquer ligação com os Jogos Olímpicos, que Paris vai sediar em 2024, algumas organizações não governamentais e autoridades acreditam que o evento é a razão pela qual este plano de realocação foi recentemente ativado. Antes da Olimpíada, os hotéis em Paris começaram a cancelar os seus contratos de habitação de emergência com o governo para abrir espaço para o esperado afluxo de turistas, de acordo com Paul Alauzy, da Medecins Du Monde, uma ONG que trabalha com migrantes sem abrigo.
“A situação relativa ao alojamento de emergência na região de Ile-de-France infelizmente não é novidade e tornou-se mais crítica nos últimos meses, independentemente do facto de a região acolher os Jogos de Paris 2024 no próximo ano”, disse um porta-voz do Jogos Olímpicos.
De acordo com a Federação de Atores de Solidariedade havia aproximadamente 50 mil pessoas sem abrigo alojadas todas as noites em 2022 em hotéis na região de Ile-de-France, onde Paris está localizada. Já este ano, pelo menos 5 mil dos lugares anteriormente disponíveis já foram cancelados.
+ Macron anuncia plano para zerar combustíveis fósseis na França até 2030
A prefeitura de Paris disse à emissora americana CNN que o número efetivo de vagas de alojamento de emergência perdidas estava próximo de 2 mil porque a cidade encontrou soluções alternativas para compensar algumas perdas de quartos de hotel. Porém, cerca de metade dos sem teto do país estão concentrados na região de Ile-de-France, ou seja, dos pouco mais de 200 mil sem abrigo alojados todas as noites no país, 100 mil estão nas redondezas de Paris, onde não há vagas para todos.
Agora, dezenas de policiais franceses alertam as pessoas em situação de rua que elas podem embarcar em conduções fornecidas pelo governo com destino a Marselha ou Bordéus, onde vão ser alojadas. Aqueles que desejam permanecer na capital são incentivados a comprovar que possuem um contrato de trabalho de longo prazo, mas não é garantido que vão conseguir um abrigo.
Embora as partidas para as regiões sejam voluntárias, muitas das ONGs envolvidas no plano de relocalização disseram que os deslocados não são informados corretamente sobre o seu destino. Por isso, muitos deles acabam optando por ficar em Paris, onde não têm nenhuma garantia.
+ Papa Francisco lamenta ‘falta de humanidade’ enfrentada por imigrantes
No total, 1.800 pessoas sem teto, a maioria das quais migrantes, foram deslocadas para fora de Paris desde abril, segundo números da Delegação Interministerial para o Alojamento e Acesso à Habitação (Dihal), um grupo governamental que reúne o Ministério do Interior e Ministério da Habitação. Cerca de 10 abrigos temporários regionais, conhecidos como SAS, foram criados em todo o país para acolher os recém-chegados no interior, cada um deles podendo acolher 50 pessoas.