O Kremlin anunciou nesta terça-feira, 4, que pode negociar com a Casa Branca a troca do repórter americano Evan Gershkovich, detido por acusações de espionagem, pelo prisioneiro russo Vladimir Dunaev, sob custódia dos Estados Unidos por acusações de crimes cibernéticos. Funcionário do The Wall Street Journal, o jornalista foi preso em março deste ano.
Durante uma teleconferência com repórteres, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Washington e Moscou trataram do assunto previamente, mas que as conclusões devem ser discutidas discretamente, longe dos holofotes.
“Dissemos que houve certos contatos sobre o assunto, mas não queremos que sejam discutidos em público”, explicou. “Eles devem ser realizados e continuar em completo silêncio”.
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Questionado sobre visitas diplomáticas, ele afirmou também que “o direito legal aos contatos consulares deve ser assegurado por ambas as partes”. Pela primeira vez desde abril deste ano, a embaixadora dos EUA em Moscou, Lynne Tracy, conseguiu permissão para visitar Gershkovich nesta segunda-feira na prisão de Lefortovo.
A embaixada americana, no entanto, não forneceu detalhes sobre o que foi tratado no encontro. Em maio, um tribunal de Moscou determinou que a prisão do repórter deveria ser estendida até o final de agosto, decisão que foi reforçada na semana passada, apesar dos apelos americanos.
Gershkovich, 31, é o primeiro jornalista dos Estados Unidos a ser detido na Rússia por acusações de espionagem desde o fim da Guerra Fria. O serviço de segurança russo, FSB, o acusou de coletar segredos sobre os militares russos para o benefício da inteligência americanas. Caso considerado culpado, ele pode ser condenado a até 20 anos de prisão.
“Ele não deveria ser detido. Jornalismo não é crime. Ele precisa ser libertado imediatamente”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, à CNN. “Ainda vamos trabalhar muito, muito duro para ver se podemos levá-lo para casa com sua família, onde ele pertence”.
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A troca de prisioneiros pode ser, então, um caminho para a liberdade do jornalista americano. Preso desde 2021, o russo Dunaev foi extraditado da Coreia do Sul por acusações de ter cometido cibercrimes contra os Estados Unidos. No período de 2015 a 2020, ele participou de uma equipe voltada para o roubo de dinheiro, informações confidenciais e sistemas de computador danificados de um conjunto amplo de vítimas.
O russo está, há dois anos, detido em Ohio. Assim como no caso de Gershkovich, diplomatas russos tiveram acesso ao prisioneiro pela primeira vez nesta segunda-feira, como relatou a chefe da seção consular da embaixada russa, Nadezhda Shumova. Como orientado por Peskov, nenhuma informação sobre a possível troca foi divulgada.
Em dezembro do ano passado, Washington e Moscou fizeram um acordo similar, no qual a Rússia libertou a estrela do basquete feminino Brittney Griner, enquanto autoridades americanas abriram mão do traficante de armas russo Viktor Bout.