Rússia envia 20.000 mercenários para intensificar ofensiva a Donbas
O presidente russo, Vladimir Putin, corre contra o tempo para anunciar alguma vitória em 9 de maio, que celebra a vitória da URSS na II Guerra Mundial

Autoridades da União Europeia afirmaram nesta terça-feira, 19, que a Rússia enviou até 20.000 mercenários da Síria, Líbia e outros países para a região de Donbas, na Ucrânia. Os enviados não possuem equipamentos pesados ou veículos blindados.
As estimativas da quantidade de mercenários no leste da Ucrânia variam de 10.000 a 20.000, sem especificação de quantos são sírios, líbios e de outras nacionalidades. Os combatentes foram recrutados pela empresa mercenária russa, o Grupo Wagner.
“Vimos algumas transferências dessas áreas, Síria e Líbia, para a região leste de Donbas, e essas pessoas são usadas principalmente como uma massa contra a resistência ucraniana”, disse uma autoridade europeia a repórteres. “É infantaria. Eles não têm nenhum equipamento pesado ou veículos.”
Os mercenários estão sendo envolvidos no esforço russo para obter o controle da maior área possível no leste da Ucrânia, no que é avaliado como uma corrida do presidente russo, Vladimir Putin, para poder anunciar algum tipo de vitória no desfile militar em Moscou, que celebrará a vitória da União Soviética na II Guerra Mundial no dia 9 de maio.
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Na chamada “segunda fase” da guerra na Ucrânia, os principais objetivos do Kremlin são capturar Donbas, garantir uma ponte terrestre para a Crimeia – para a qual a cidade sitiada de Mariupol é fundamental –, apreender a província de Kherson para garantir o fornecimento de água potável para a Crimeia e conquistar territórios adicionais, que podem ser usados como moeda de troca nas negociações de paz.
Donbas, uma região central extensa que cobre grande parte do leste da Ucrânia, tem sido a linha de frente do conflito do país com a Rússia desde 2014. Apesar de ter se tornado independente da Rússia com o resto do país em 1991, Donbas ainda é vista por muitos como “o coração da Rússia”.
A região fazia parte do conceito de “Novorossiya”, ou Nova Rússia, termo dado aos territórios a oeste, mirados pelos ideais expansionistas do império russo. Cidades como Luhansk e Donetsk são historicamente parecidos com a Rússia e essa imagem ainda persiste na visão de mundo de Putin.
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Especialistas sugerem que o objetivo final do presidente russo é reconstruir a União Soviética. Anna Makanju, ex-diretora para a Rússia no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, sugeriu no mês passado que Putin “acredita que ele é como os czares”, as dinastias imperiais que governaram a Rússia por séculos, “eleitos por Deus para controlar e restaurar a glória do império russo”.
A captura de Donbas seria necessária para consolidar um projeto como esse, devido à sua importância simbólica e econômica – a região forneceu matérias-primas para toda a União Soviética durante o século XX.