A Rússia acusou a Ucrânia nesta segunda-feira, 8, de bombardear a usina nuclear de Zaporizhzhia, que fica no sul do território ucraniano e é controlada pelas forças de Moscou há quase dois anos, exigindo uma resposta contundente do Ocidente. Kiev respondeu que não estava por trás dos ataques, que ocorreram no domingo 7, sugerindo que os responsáveis seriam os próprios russos.
A Rosatom, empresa estatal russa de energia nuclear, afirmou em comunicado que o exército ucraniano atacou a usina três vezes no domingo, usando drones. A primeira investida teria ferido três pessoas perto de uma cantina. Depois, supostamente atingiu uma área de carga e, por último, alegadamente danificou a cúpula acima do reator nº 6.
“A central nuclear de Zaporizhzhia foi submetida a uma série sem precedentes de ataques de drones, uma ameaça direta à segurança da central”, afirmou a Rosatom. “Os níveis de radiação na usina e na área circundante não mudaram”, acrescentou.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, pediu que a comunidade internacional condenasse o ato de “terrorismo nuclear”. Ela também criticou especificamente os líderes ocidentais, aliados da Ucrânia, por ignorarem que Kiev “coloca em risco a segurança nuclear da usina”.
Resposta da Ucrânia
A agência de inteligência militar do Ministério da Defesa da Ucrânia disse nesta segunda-feira que Kiev não foi a autora dos ataques contra a usina, sugerindo, ao invés disso, que teriam sido obra dos próprios russos.
“Os ataques russos, incluindo os de imitação, no território da usina nuclear ucraniana têm sido há muito tempo uma prática criminosa bem conhecida dos invasores”, disse o ucraniano Andriy Usov, porta-voz da Diretoria Principal de Inteligência (HUR).
Nova Chernobyl?
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), um órgão das Nações Unidas, afirmou que este foi o primeiro ataque direto contra a central nuclear, a maior da Europa, desde novembro de 2022. As forças russas assumiram o controle da usina de Zaporizhzhia logo após o início da guerra na Ucrânia. Desde então, tanto Moscou quanto Kiev trocaram repetidas acusações a respeito da autoria de bombardeios ao local.
“Esta é uma grande escalada dos perigos de segurança nuclear enfrentados pela Central Nuclear de Zaporizhzhia. Tais ataques imprudentes aumentam significativamente o risco de um grande acidente nuclear e devem cessar imediatamente”, disse o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, em comunicado. “Atacar uma usina nuclear é absolutamente impossível”, acrescentou.
A usina tem seis reatores VVER-1000 V-320 contendo urânio 235, que são refrigerados e moderados com água – tecnologia da era soviética. Os reatores nº 1, 2, 5 e 6 estão em desligamento a frio, enquanto o reator nº 3 está desligado para reparos e o reator nº 4 está no chamado “desligamento a quente”, de acordo com a planta.
A AIEA disse que seus especialistas no local confirmaram terem havido três ataques de drones contra a central elétrica e afirmaram que soldados russos abateram o que parecia ser um drone que se aproximava do reator nº 6. Segundo Grossi, embora os danos não tenham comprometido a segurança nuclear, este foi um “incidente grave”, com “potencial de minar a integridade do sistema de contenção do reator”.