Um relatório da organização de direitos humanos Global Rights Compliance (GRC) publicado nesta quinta-feira, 13, concluiu que a Rússia utilizou deliberadamente a fome de civis como tática de guerra durante os 85 dias de invasão russa à cidade ucraniana de Mariupol no início de 2022.
O documento afirma que as forças russas “atacaram sistematicamente objetos indispensáveis à sobrevivência da população civil” e bloquearam as rotas de chegada da ajuda humanitária, impedindo o acesso a alimentos, água, energia e tratamentos de saúde.
Estima-se que 22 mil pessoas foram mortas em Mariupol durante a ocupação russa no início da guerra na Ucrânia. O relatório mostra que a maior parte das mortes foi decorrente da falta de comida, água ou aquecimento e argumenta que os líderes russos pretendiam matar e prejudicar um grande número de civis.
Cerca de 90% das casas e instalações de saúde foram destruídas ou danificadas durante a invasão, de acordo com dados do relatório. Com temperaturas abaixo de 10 °C, muitas pessoas morreram de frio pela falta de aquecedores depois que as tropas russas atacaram a infraestrutura de energia.
A pesquisa para o relatório foi feita a partir da criação de um algoritmo para analisar imagens de satélite e mapear a destruição de locais específicos na Ucrânia.
Crime de guerra
O relatório faz parte de um dossiê submetido ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, pelos advogados da GRC em conjunto com o governo ucraniano.
A fome de civis como uma tática militar é definida como crime de guerra pelo Estatuto de Roma, documento fundador do TPI, e não engloba apenas a falta de comida, mas também “é (sobre) tudo o que uma pessoa precisa para sobreviver”, explicou à Reuters a consultora jurídica ucraniana da GRC, Olha Matskiv.
O TPI já emitiu quatro mandatos de prisão contra autoridades russas, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin, por crimes cometidos na Ucrânia.