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Rudolph Giuliani: o homem-granada de Donald Trump

O ex-prefeito de Nova York, agora advogado e escudeiro do presidente americano, é peça-chave no enrosco ucraniano que pode levar ao impeachment

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 15h22 - Publicado em 18 out 2019, 06h00
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  • O Show de Rudy não é um programa formal, mas certamente está entre os realities mais vistos nos Estados Unidos. Passa em qualquer canal, a qualquer hora do dia e da noite, e tem uma estrela incontestável: Rudolph Giuliani, o Rudy, que já foi admirado prefeito de Nova York e hoje, aos 75 anos, na posição de advogado pessoal de Donald Trump, virou arroz de festa de programas de entrevistas em que desfila acusações contra a imprensa, em particular, e o Partido Democrata em geral. Pois agora o que coloca o causídico trumpista sob os holofotes é um escândalo com potencial de abalar os destinos da nação. Giuliani é peça fundamental do inquérito de impeachment que se desenrola na Câmara porque fez e aconteceu no enrosco em que o presidente, ao que tudo indica, quis forçar a Ucrânia a desencavar podres sobre seu adversário eleitoral, o democrata Joe Biden. Quando essa movimentação toda chegou aos calejados ouvidos do então conselheiro de segurança nacional John Bolton, ele resumiu: “Giuliani é uma granada”.

    As investigações que miram os subterrâneos das negociações levam a Giuliani por várias vias. Elas mostram que ele se encontrou com um alto funcionário do presidente ucraniano Vladimir Zelensky em Madri, em agosto, para pressionar pelo pleito do chefe, que desejava reabrir uma apuração tocada na Ucrânia sobre corrupção na companhia de gás em que o filho de Biden, Hunter, fez parte da diretoria. Não dá para cravar por ora a eficácia da reunião, mas o fato é que o caso foi reaberto. Outra obsessão da dupla Trump-Giuliani é provar que os democratas agiram em conluio com ucranianos para prejudicar a campanha de Trump em 2016 — uma espécie de retribuição da acusação de que a Rússia ajudou o republicano, da qual ele se livrou depois de longa jornada.

    Nos últimos dias, o rolo enredou quatro ajudantes de Giuliani, todos hoje presos sob a acusação de agir de maneira nada republicana, com o perdão do trocadilho. Na quinta-feira 10, dois deles, como se não bastasse também suspeitos de violar regras de financiamento na atual campanha para a reeleição de Trump (mesmo motivo, aliás, que fez Rudy ser chamado a depor e ter o sigilo bancário suspenso), foram detidos no aeroporto com passagem só de ida para a Europa. Até a quarta-feira 16, outros dois haviam seguido para a prisão. Se abrirem o bico, o advogado e seu primeiro-cliente deverão perder o sono. Os depoimentos da ex-embaixadora americana na Ucrânia Marie Yovano Vitch, que afirmou ter sido alvo de uma cruzada liderada por Giuliani para sacá-­la do posto, uma vez que se tornara um obstáculo às heterodoxas costuras, e de uma ex-assessora presidencial, que falou sobre o choque no meio diplomático com a fritura da colega, já são um prenúncio do que pode vir por aí — e pode vir muita coisa. Um novo relato, do embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sond­land, reve­lou que Trump chegou a designar dois diplomatas para trabalhar diretamente com Giuliani na Ucrânia.

    Qualquer integrante do alto escalão da Casa Branca tentaria no mínimo disfarçar que foi a um dirigente estrangeiro pedir uma mãozinha na campanha presidencial de Trump. Qualquer um, menos Giuliani, boquirroto incorrigível, que confirmou em uma entrevista na TV (onde mais?) que esteve com o funcionário ucraniano e pediu que remexesse o passado, sim. “Disse a ele: ‘Vocês devem a verdade tanto ao seu país quanto ao nosso’  ”, relatou. O jornal The New York Times resgatou há poucos dias mais um momento tipicamente Rudy, quando, em 2017, ele ainda era só amigo do peito de Trump: penetra em uma reunião na Casa Branca entre o presidente e seu então secretário de Estado, Rex Tillerson, aproveitou para pedir que um cliente seu, em prisão turca por contrabando, fosse incluído em uma planejada troca de detentos entre Turquia e Estados Unidos. O secretário estrilou. Trump não disse sim nem não. A troca acabou não acontecendo.

    Nascido em uma família italiana do Brooklyn, Giuliani formou-se advogado e construiu uma bem-sucedida carreira nas décadas de 70 e 80. Como promotor, ganhou projeção ao encarcerar traficantes e trambiqueiros que infestavam Manhattan (pausa: o departamento que o alçou o investiga agora por burlar regras de lobby para favorecer negócios na mesma Ucrânia). Ele foi prefeito de Nova York entre 1994 e 2001, período em que tirou da sarjeta a reputação da cidade e fez dela exemplo de pujança e segurança. Seu pulo do gato foi aplicar com rigor a tolerância zero, que coibia com altas multas práticas corriqueiras, como atravessar a rua fora da faixa de pedestres e jogar lixo no chão. Intensificou o patrulhamento e remodelou áreas inteiras, como a Times Square, que se livrou dos cinemas pornográficos para se transformar em cartão-­postal fervilhante.

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    Giuliani deixou a prefeitura como herói, mas desde então seu prestígio vem caindo ladeira abaixo. Tentou se candidatar à Presidência em 2008. Não empolgou. Magoado, anunciou que abandonava a política e curou as feridas faturando alto na advocacia: em 2017, registrou ganhos de 9,5 milhões de dólares. Amigo de Trump de longa data, aceitou neste ano o convite para assessorá-lo (sem ganhar um tostão, como gosta de repetir). “Advogar é o que faço com mais habilidade. Na política há muita gente melhor do que eu”, declarou recentemente. Bem ao jeito Giuliani, ele está enrolado em um muito rumoroso divórcio da mulher, Judith, com quem se casou em 2003 depois de um muito rumoroso divórcio da então mulher, Donna Hanover. Rudy e Judith frequentavam as altas-rodas, recebiam famosos em suas seis mansões e eram sócios de onze clubes dos mais exclusivos. Entre as revelações do processo de divórcio estão gastos de Giuliani de 7 131 dólares em canetas-tinteiro e de 12 010 em charutos. A audiência definitiva está marcada para janeiro. Mais uma tribuna para Rudy apresentar seu show.

    Publicado em VEJA de 23 de outubro de 2019, edição nº 2657

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