O diplomata e historiador Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda no governo de Itamar Franco, acredita que o país está numa encruzilhada. Em 22 de abril, quando é celebrado o Dia da Terra, lideranças do mundo inteiro se encontrarão para discutir ações de combate ao aquecimento global. A cúpula global foi convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que promete colocar o Brasil contra a parede e cobrar explicações sobre o desmatamento da Amazônia. Para Ricupero, será a última chance de o governo Bolsonaro apresentar soluções afirmativas a favor do meio ambiente e tentar, com isso, recuperar um pouco do prestígio internacional.
“O Brasil terá uma oportunidade única. O caminho mais inteligente seria o país se comprometer a cumprir as metas de combate ao desmatamento estipuladas no Acordo de Paris, algo que hoje não está sendo feito, e ir ainda além. Mas o caminho mais provável é que o país escolha ‘jogar para a plateia’ e alegar que o problema é o dinheiro e que a comunidade internacional não ajuda”, afirma o ex-ministro, que emenda uma crítica ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. “A verdade é que o Fundo Amazônia, que era alimentado pela Noruega e pela Alemanha, está parado por causa de complicações criadas por esse ‘antiministro’ que nós temos. São mais de 500 milhões de reais em recursos parados.”
Para Ricupero, o governo deveria parar de “demagogia” e aproveitar a oportunidade para anunciar medidas de proteção ao meio ambiente. Caso contrário, segundo ele, o país irá afastar ainda mais os investidores estrangeiros. “Se não aproveitar essa chance, eu não sei se aparecerá outra oportunidade. Para este governo, eu duvido que haja uma nova chance”, opina.
O Brasil se comprometeu, em 2015, a pôr fim ao desmatamento ilegal no país e reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, estendendo para 43% até 2030. Visto como protagonista no tema há pouco mais de cinco anos, hoje o país desperta suspeição das grandes nações. Em 2020, o Brasil ficou de fora da Cúpula da Ambição Climática. Antes disso, o presidente Jair Bolsonaro acenou com a possibilidade de abandonar o Acordo de Paris – a atitude, inclusive, culminou em um conflito diplomático com Emmanuel Macron, presidente da França.
Ex-ministro da Fazenda, Ricupero também acredita que o governo tem deixado a desejar em medidas que estimulem a economia do país. “Não vejo perspectiva de melhorias para o país. Esse governo, embora tenha anunciado desde o início que faria um esforço grande para melhorar o Custo Brasil, até agora entregou muito pouco”, critica. Ele afirma que aprovar a reforma tributária é o principal desafio para evitar a fuga de capital estrangeiro do país. Nos últimos meses, montadoras como Audi, Ford e Mercedes-Benz, a eletroeletrônica Sony e outras empresas reduziram ou encerraram suas linhas industriais em solo brasileiro. O movimento tem deixado um rastro de desemprego pelo país. Hoje, a falta de trabalho atinge 32 milhões de brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
“É inevitável que essas empresas deixem o Brasil. Os custos no Brasil acabam tornando mais vantajoso importar do que fabricar localmente. O resultado disso é que tem perdido mercado para países menores, como o Vietnã, que hoje domina a produção de calçados, e Bangladesh. São países pobres que estão se industrializando e importando matéria-prima do Brasil”. Para ele, não dá para apostar todas as fichas no desenvolvimento do agronegócio. “O agro, como é intensivo em tecnologia e em capital, tende a poupar mão de obra. Cada vez mais esse setor emprega menos. Para um país que já tem uma desocupação alta, um índice grande de subemprego e de atividade informal, esse tipo de economia não é parte da solução e, sim, do problema”, afirma.
Para ele, criou-se uma “falácia” de que o dólar alto (hoje cotado a 5,48 reais) é bom para a indústria. “Muitos acham, de forma simplista, que quanto mais o real se desvalorizar melhor será para a indústria. Não é. O que é bom para a indústria é um câmbio relativamente desvalorizado, mas estável. Como a oscilação do câmbio hoje é gigantesca, as empresas não conseguem prever nada”, diz. “O governo deveria enfrentar os componentes do Custo Brasil, mas isso não tem sido feito de modo efetivo. O que há de concreto é pouco e já passamos da metade do governo. É difícil imaginar que isso irá mudar no curto prazo.”