O governo britânico divulgou nesta quinta-feira, 27, documento que alerta para a possibilidade de o Reino Unido abandonar as negociações comerciais que se iniciam com a União Europeia e demandar “liberdade regulatória” caso Bruxelas não abra mão de suas exigências. O texto gera preocupação sobre as conversas entre os dois lados para cimentar o Brexit em bons termos até o final deste ano. Se não houver avanço até junho, os britânicos prometem deixar as negociações.
Com a decisão final de divórcio, em janeiro, a União Europeia e o Reino Unido entraram em uma fase período de transição que se estende até o dia 31 de dezembro de 2020. Durante este período, os britânicos ainda estarão sob regulações europeias. Londres espera alcançar um acordo comercial simples com os europeus, nos moldes do firmado com o Canadá, até setembro para colocá-lo em prática já no início de 2020.
Bruxelas quer que o Reino Unido continue a cumprir várias regras da União Europeia, como as que tratam dos subsídios estatais, meio ambiente e normas trabalhistas e tributárias, em troca de uma abertura ampla do mercado europeu – sem tarifas aduaneiras – para os produtos britânicos.
Um dos principais motivos que levou à separação da ilha com o continente foi a argumentação de que as políticas da União Europeia estariam se sobressaindo à autodeterminação britânica. Como resposta às exigências europeias, o governo britânico defende o controle sobre seus próprios regulamentos de auxílio estatal. Contudo, Londres diz estar aberta a “compromissos recíprocos de não enfraquecer, ou reduzir, o nível de proteção” existente nas legislações trabalhista e de meio ambiente.
“O governo não negociará nenhum acordo em que o Reino Unido não tenha controle sobre suas próprias leis e vida política”, menciona o documento.
A Comissão Europeia, por outro lado, já trabalha com a possibilidade de as conversas fracassarem. Para os europeus, o acesso à pesca no Canal da Mancha é uma das maiores prioridades nas negociações. Londres, por outro lado, quer instituir cotas anuais para o setor pesqueiro do continente.
A discussão sobre a pesca é tão sensível que o Canal da Mancha foi palco de batalhas marítimas, com barcos britânicos avançando contra pesqueiros europeus, em 2019.
Caso as ameaças de Londres se concretizem em junho e o governo britânico se retire das negociações, o risco de um Brexit sem acordo se torna cada vez mais real, com consequências econômicas para ambos os lados. Se as negociações fracassarem, as normas de comércio passarão a ser regidas pela Organização do Comércio (OMC), que está paralisada desde dezembro de 2019 devido ao boicote dos Estados Unidos na nomeação de novos juízes da corte de apelação.
(Com AFP)