Rei belga devolve máscara roubada do Congo durante período colonial
Artefato pertencia a um povo tradicional da África Central é o primeiro de cerca de 84.000 objetos que serão entregues ao país de origem
A Bélgica devolveu à República Democrática do Congo o primeiro de cerca de 84.000 artefatos saqueados durante a era colonial. A máscara cerimonial chamada Kakungu, parte do acervo Museu Real da África Central, na cidade belga de Tervure, passará a ser exibida no Museu Nacional congolês.
Em visita histórica à República Democrática do Congo, o rei Philippe e a rainha Mathilde se reuniram com o presidente Félix Tshisekedi na terça-feira, 7. Ao chefe de Estado congolês, o monarca disse querer “devolver a você este trabalho excepcional para permitir que os congoleses o descubram e admirem”.
A viagem, que irá durar seis dias, é primeira que a realeza belga faz ao país africano em dez anos e marca “o início simbólico da colaboração cultural entre a Bélgica e o Congo”, segundo o monarca.
A máscara recém-devolvida pertence ao grupo étnico Suku, do sudoeste do Congo, e era usada durante cerimônias rituais. O artefato foi roubado no século 19, época em que o país da África Central era colônia da Bélgica.
Após a entrega, foi assinado um acordo para abrir a colaboração cultural entre o Museu Nacional da República Democrática do Congo e o Museu Real da África Central, mas os detalhes não foram divulgados.
Acompanhando o movimento mundial de retorno de bens simbólicos e históricos apreendidos por países europeus às suas nações de origem, o governo belga estabeleceu no ano passado um roteiro para a devolução de obras de arte saqueadas durante a era colonial.
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Segundo autoridades do país europeu, outros artefatos do Museu Real da África Central serão entregues ao local de origem. O museu belga tem cerca de 70% de seu acervo composto por objetos saqueados de povos tradicionais.
Durante o período colonial, milhares de artefatos culturais foram levados do continente africano pelos europeus. O patrimônio de povos tradicionais era negociado por colecionadores de arte e exibidos em museus e bibliotecas ocidentais.
Em 2020, o rei Phillipe escreveu ao presidente Tshisekedi no 60º aniversário da independência do Congo expressando seus “mais profundos arrependimentos” pelos abusos coloniais cometidos por seus ancestrais.
Milhões de congoleses sofreram atos de crueldade durante a colonização da Bélgica, particularmente durante o reinado de Leopoldo II, que considerava o Estado Livre do Congo como sua propriedade pessoal.
Em entrevista à BBC, a princesa Maria Esmeralda, tia do atual monarca belga, disse que as antigas potências coloniais europeias devem reconhecer seu passado e devolver objetos saqueados.
“Acredito firmemente que os artefatos que foram roubados de tantos países da África e de outros lugares devem voltar para onde pertencem”, declarou.