A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, fez um pronunciamento em tom duro nesta sexta-feira 21 sobre o “impasse” que, segundo ela, trava as negociações para a saída do país da União Europeia (UE), o chamado Brexit.
May criticou as autoridades da UE por não aceitarem sua estratégia econômica para a saída do Reino Unido do bloco, conhecida como plano Chequers. A premiê também pediu “respeito” aos líderes europeus, depois de a imprensa britânica receber a recusa dos líderes europeus como uma “humilhação”.
“Não se pode rejeitar nossa proposta sem detalhes ou contrapropostas”, enfatizou May, sinalizando que Londres espera uma proposta da UE para tentar superar as diferenças. O prazo previsto para a saída do país é 29 de março de 2019.
“Sempre disse que as negociações do Brexit com a UE seriam duras”, sobretudo na reta final, lembrou May. Na quinta, em uma reunião com as lideranças do bloco em Salzburgo, na Áustria, a premiê foi informada de que os líderes europeus recusaram seu plano.
Segundo o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a estratégia britânica “não funcionará, porque arrisca minar o mercado comum” europeu.
“Nenhum acordo sobre o Brexit é melhor que um acordo ruim”, afirmou May, ressaltando que o plebiscito feito no país para a saída da UE foi legítimo e precisa ser respeitado. Segundo ela, “negar a legitimidade do plebiscito é uma ameaça à democracia em nosso país”.
Sobre a questão das Irlandas, May ressaltou que nem ela nem nenhum outro premiê poderiam aceitar uma fronteira rígida entre ambas, pois isso significaria o fim da integridade do Reino Unido. “O Parlamento britânico já rejeitou por unanimidade uma fronteira rígida entre as Irlandas”, lembrou.
Ainda segundo a premiê, a proposta atual da UE impediria que Londres fizesse acordos com outros países. Ela disse que o bloco pretende manter, na prática, a Irlanda do Norte dentro da união alfandegária europeia, mas isso é incompatível com a integridade nacional. A Irlanda faz parte da UE, mas a Irlanda do Norte deve agora deixar o bloco, junto com o restante do Reino Unido, disse.
De qualquer modo, a premiê enfatizou que os cidadãos dos demais países da UE que vivem no Reino Unido terão seus direitos mantidos e continuarão a ser bem-vindos, mesmo com o impasse no diálogo entre autoridades.
May ainda fez um aceno firme ao bloco, em meio aos desgastes recentes na negociação: “Tenho tratado a UE sempre com respeito e esperamos o mesmo da parte deles”, afirmou.
Na quinta, Tusk divulgou uma foto em sua conta no Instagram de uma cena amistosa entre ele e May, mas com uma legenda na qual Tusk ironiza o suposto desejo do Reino Unido de escolher apenas o que lhe interessa no acordo de separação.
Obstáculos
Atualmente, o principal obstáculo para a conclusão de um pacto do Brexit é um acordo que manteria bens, serviços e pessoas fluindo livremente entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido. Os dois lados fizeram contraofertas nos últimos dias e espera-se que May exorte os líderes da UE a firmarem um compromisso.
A proposta de May não prevê checagens alfandegárias, mesmo que os dois lados não firmem um acordo de livre-comércio após a separação. O objetivo é evitar que uma fronteira física seja construída entre Irlanda e Irlanda do Norte.
Bruxelas propõe uma solução temporária: a manutenção da Irlanda do Norte sob as regras sanitárias, fiscais e de regulamentação da UE, o que dispensaria a fronteira e a fiscalização de mercadorias que atravessam a fronteira. Nesse caso, a aduana seria deslocada para dentro do Reino Unido.
A proposta foi recusada por Londres, porque May considera que a iniciativa resultaria em uma unificação de fato das duas Irlandas, sob controle da UE, um resultado inaceitável para o Partido Unionista Democrático (DUP), que dá sustentação ao seu governo.
Depois de dezoito meses de impasse, Tusk afirmou que o tempo está passando, que uma solução terá de ser apresentada até 18 de outubro para ser analisada até a próxima cúpula, em novembro. “A próxima reunião do Conselho Europeu será a hora da verdade. Esperamos progressos substanciais”, advertiu Tusk.
Na prática, Bruxelas deu um ultimato a Londres ao impor novembro como o último prazo para que uma proposta seja aceita. Nesta quinta, Macron era um dos mais críticos ao governo britânico. O francês acusou os defensores do Brexit de estarem desinformando a opinião pública do Reino Unido.
“Os que dizem que podem continuar sem a Europa são mentirosos”, afirmou o presidente francês. “Não é fácil deixar a União Europeia, porque há custos e consequências.”
‘Humilhação’
As propostas da premiê britânica para o Brexit foram declaradas mortas pela imprensa do Reino Unido depois do que viram como uma humilhação de May durante a cúpula informal com líderes europeus em Salzburgo.
Para a mídia britânica, a mensagem foi clara. “Seu Brexit está quebrado”, disse o jornal Daily Mirror.
Outros jornais britânicos usaram uma foto da Reuters em suas primeiras páginas mostrando a premiê vestindo um casaco vermelho, aparentemente isolada de um grupo de líderes da União Europeia.
“May humilhada”, disse o jornal The Guardian. “Humilhação para May”, disse a manchete do Times.
“Fim das esperanças de May em Salzburgo na medida em que líderes da UE rejeitam acordo de Chequers”, escreveu o Financial Times, que tem defendido fortemente a filiação do Reino Unido à União Europeia. A BBC disse: “Rejeição constrangedora para premiê em Salzburgo”.
As manchetes negativas indicam o tamanho da divergência entre Londres e os outros 27 países membros da UE sobre o futuro do Brexit.
(Com Estadão Conteúdo)