Ismail Haniyeh, assassinado em um ataque aéreo no Teerã nesta quarta-feira, 31, era líder político do Hamas desde 2017 e foi uma figura central nas negociações de cessar-fogo em Gaza e libertação de reféns.
O homem de 62 anos vivia no Catar desde 2019, onde recebia um tratamento luxuoso bancado pela monarquia local. Como a “face internacional” do Hamas, seu papel principal era construir relações com os apoiadores do grupo no exterior, em particular no Irã, onde tinha uma casa.
A morte de Haniyeh aumenta o temor de um conflito em maior escala no Oriente Médio. O novo presidente do Irã condenou o ataque e afirmou que o país vai defender “sua integridade territorial, sua honra, orgulho e dignidade”.
Trajetória no Hamas
Filho de refugiados expulsos da cidade Ascalão, que hoje faz parte do território de Israel, Haniyeh nasceu no campo de Shati, perto da Cidade de Gaza, e se juntou ao Hamas em 1987, ano em que o grupo foi fundado após o início da primeira Intifada, uma ampla revolta palestina contra a ocupação israelense em Gaza e na Cisjordânia. Ele foi preso diversas vezes em Israel por sua participação na revolta até ser deportado de volta para Gaza.
Haniyeh tornou-se protegido do antigo líder e fundador do Hamas, Sheikh Ahmad Yassin, e foi subindo constantemente de cargo no grupo até que Yassin e Abdel Aziz Rantisi, outro fundador do Hamas, foram mortos em ataques israelenses em 2004. Na ausência dos fundadores, Haniyeh foi nomeado parte de uma “liderança coletiva” secreta.
Quando o Hamas venceu as eleições para o Conselho Legislativo Palestino em 2006, ele assumiu o cargo de primeiro-ministro do governo da Autoridade Palestina (AP), mas foi demitido um ano depois por Mahmoud Abbas, presidente da AP. Em 2007, o Hamas tomou o controle de Gaza após um conflito com a AP, liderada pelo grupo palestino Fatah.
Ele governou Gaza até 2017, quando se tornou o líder político geral do Hamas, assumindo o posto de Khaled Meshaal, que estava no cargo desde 2004.
Negociações de cessar-fogo
Visto como um moderado em comparação com os outros membros radicais, Haniyeh foi um interlocutor-chave para os mediadores internacionais durante as negociações por um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Enquanto isso, as decisões sobre a guerra são tomadas na prática por Yahya Sinwar, líder do Hamas em Gaza que provavelmente está escondido sob os túneis da cidade de Khan Younis.
Ele afirmava que o Hamas estava disposto a chegar a um acordo de cessar-fogo com Israel, sob a condição de que o país retirasse suas tropas de Gaza permanentemente. No entanto, Israel classificou suas demandas como “inaceitáveis”, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmando repetidamente que o conflito não terá fim até que o Hamas seja totalmente destruído.
O envolvimento de Haniyeh na guerra contra Israel custou a vida de três de seus filhos, Hazem, Amir e Mohammad, que foram mortos por um ataque aéreo israelense em abril.
“Quem pensa que atingir meus filhos durante as negociações de cessar-fogo e antes que um acordo seja firmado forçará o Hamas a recuar em suas demandas é delirante”, disse ele após o episódio.
No início do mês, ele ainda estava em contato com os mediadores do Catar e Egito para discutir propostas para uma trégua em Gaza. Dado o seu importante papel nas negociações, a morte de Haniyeh pode postergar ainda mais o fim do conflito.