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Quarentão-problema: por que o momento é delicado para o príncipe Harry

Às vésperas de completar quatro décadas, ele tem pouco a mostrar e está, segundo dizem, mexendo os pauzinhos para voltar a ser royal

Por Duda Monteiro de Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 set 2024, 08h00

Em um balanço de vida daqueles comuns a quem chega aos 40 anos (no caso dele, em 15 de setembro próximo), o que o príncipe Harry, duque de Sussex, filho mais novo do rei Charles III, tem a mostrar? Uma duquesa linda, Meghan, 43, totalmente fora dos padrões da realeza — americana, ex-­atriz, divorciada, birracial —, e dois filhinhos fofos, Archie, 5, e Lilibet, 3. Uma competição esportiva de natureza impecável, os Jogos Invictus, que ele criou em 2014 para manter vivo o espírito de luta de soldados feridos ou desabilitados em serviço. Uma fundação filantrópica, Archewell, que não vai lá bem das pernas. Um punhado de processos contra tabloides que perseguem celebridades. E, acima de tudo, uma relação regada a acusações e ressentimentos com o resto da família, trincada quando abandonou sua função, definida ainda no berço, e aprofundada em entrevistas e livros revelando podres inconfessáveis dos parentes.

Postas na mesa, as cartas não lhe são favoráveis — motivo pelo qual a ovelha desgarrada favorita da nobreza britânica estaria agora sondando a possibilidade de fazer as pazes com o passado e voltar a aparecer em um ou outro compromisso oficial. “A sensação é a de que Harry e Meghan parecem um pouco perdidos e inseguros sobre o que fazer”, observa Craig Prescott, professor de direito na Universidade de Londres e especialista em realeza. Radicado na Califórnia, onde vive com a mulher e os filhos em uma mansão de 14 milhões de dólares, nos últimos tempos Harry muda de assunto quando questionado sobre as rusgas familiares.

BONS TEMPOS - Casamento de conto de fadas: depois, virada de mesa
BONS TEMPOS - Casamento de conto de fadas: depois, virada de mesa (Danny Lawson/Getty Images)

Ao saber que o pai tinha câncer, viajou a Londres para visitá-lo (conseguiu uma audiência de meia hora). Ao se anunciar que a cunhada Catherine também tinha câncer — do qual ela acaba de encerrar tratamento, como informou em um vídeo em família —, o casal mandou um cartão simpático (mal recebido, segundo as más línguas, porque a chamaram de Kate, e não pelo nome completo, como agora prefere). Mais significativo ainda, Harry não adicionou novos capítulos ao preparar o relançamento de sua autobiografia, O que Sobra, previsto para outubro. “É interessante que ele não tenha aproveitado a oportunidade para incluir revelações e segredos palacianos”, observa o professor Prescott.

Para cavar um lugarzinho, ainda que discreto, entre o punhado de royals que ganha para aparecer, o quarentão tem pela frente uma cruzada renhida por absolvição de pecados iniciados na adolescência rebelde. A relação com o irmão, William, e com o pai ruiu quando o duque e a duquesa de Sussex abdicaram das funções reais em 2020, dois anos depois de seu casamento de conto de fadas, mudaram-se para os Estados Unidos e relataram em uma entrevista à apresentadora Oprah Winfrey situações de racismo e pressões no palácio. A publicação de O que Sobra no ano passado, com comentários para lá de ferinos também sobre a rainha Camilla, fez o caldo entornar de vez.

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RESSENTIMENTO - William e Kate: ainda magoados com as revelações
RESSENTIMENTO - William e Kate: ainda magoados com as revelações (Max Mumby/Getty Images)

A favor de uma reabilitação de Harry e Meghan conta a possibilidade de o Palácio de Buckingham voltar a exercer certo controle sobre o casal, cortando pela raiz as viagens “semir­reais”, como a que fizeram recentemente à Colômbia, e ser consultado sobre seus lucrativos contratos com empresas como Netflix e Spotify. Contra, além do óbvio pote de mágoas, está a monumental impopularidade de ambos entre os súditos: em ranking recente de aprovação de onze pessoas e uma instituição — a família real como um todo —, Harry apareceu em antepenúltimo lugar (31%), à frente apenas de Meghan (25%) e do tio em desgraça, Andrew (12%). Sem problemas financeiros — o príncipe recebeu uma herança de 13 milhões de libras da mãe, Diana, e ao completar 40 anos põe a mão em outra bolada, de 8 milhões, deixada pela bisavó, a rainha-­mãe Elizabeth —, sem conseguir acesso à altíssima sociedade filantrópica americana, onde circulam Bill e Melinda Gates e o ex-presidente Barack Obama e sua mulher, Michelle, Harry, como acontece com muitos homens na madureza, estaria revendo suas opções. Resta ver se vai engajar a parentada na jornada de introspecção.

Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910

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