Putin anuncia controle de Mariupol e promete cerco a militares ucranianos
Cerca de 2.000 militares ucranianos ainda permanecem entrincheirados na usina de Azovstal, bastião da resistência local

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira, 21, que forças russas tomaram o controle “com sucesso” da cidade ucraniana de Mariupol, ordenando um cerco à usina de Azovstal, onde quase 2.000 militares ucranianos ainda permanecem entrincheirados.
“O fim do trabalho de libertação de Mariupol é um sucesso”, afirmou Putin ao ministro da Defesa, Serguei Shoigu, em um encontro televisionado. A cidade, que virou símbolo da destruição da guerra, era considerada o último obstáculo para a conclusão da “ponte terrestre” da Rússia para a Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Segundo o Ministério da Defesa russo, tropas russas já controlam toda a cidade ucraniana, exceto a usina. Segundo Putin, “o ataque à zona industrial não é apropriado”, já que “não há necessidade de entrar nessas catacumbas e rastejar no subsolo através das instalações industriais”. Dessa forma, ele pediu o bloqueio de “toda a área industrial para que nem mesmo uma mosca possa escapar”.
Após o anúncio do presidente russo, a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, exigiu que a Rússia permita um corredor humanitário imediato para que os civis sejam retirados da região. Segundo ela, 1.000 civis e 500 soldados feridos precisam ser retirados imediatamente.
De acordo com a agência de notícias russa RIA, na última terça-feira, 19, o Ministério da Defesa da Rússia propôs um cessar-fogo em Mariupol, com a condição de que os soldados ucranianos entregassem suas armas e se rendessem. O acordo, no entanto, não foi para a frente e avanços russos continuaram na região.
Em vídeo publicado nas redes sociais na quinta-feira, um comandante da Marinha ucraniana alertou que militares que lutavam em Mariupol já enfrentavam seus “últimos dias, talvez horas”. Em comunicado a uma rede de TV ucraniana, o prefeito de Mariupol, Vadym Boychenko, estimou que cerca de 100.000 civis permanecem na cidade e dezenas de milhares foram mortos.
Moscou está se aproximando do controle total da cidade ucraniana. Bombardeios e confrontos em solo deixaram grande parte da região pulverizada, matando pelo menos 21.000 pessoas, segundo estimativas ucranianas. A queda é vista por analistas como o avanço mais estratégico para a Rússia desde o início da invasão ao país vizinho, em 24 de fevereiro.
Junto ao bloqueio, Putin também prometeu salvar a vida dos que se renderem, afirmando que “a todos aqueles que não entregaram as armas que o façam, o lado russo garante a vida e que serão tratados com dignidade”, disse.
Para Kiev, no entanto, a Rússia teria decidido bloquear a usina porque não conseguiria tomá-la à força.
“Eles fisicamente não podem tomar Azovstal, eles entenderam isso, sofreram grandes perdas lá. Nossos defensores continuam firmes”, disse à imprensa Oleksiy Arestovych, assessor presidencial ucraniano. “Também pode ser explicado pelo fato de terem deslocado parte de suas forças (de Mariupol) para o norte, a fim de reforçar as tropas que tentam cumprir seu objetivo principal (…) avançar para os limites administrativos das regiões de Donetsk e Luhansk”.
As negociações de paz entre os dois países estão travadas desde que a Ucrânia acusou a Rússia de cometer crimes de guerra, incluindo o massacre de centenas de civis em Bucha. A Rússia revidou, tentando culpar os ucranianos pela falta de progresso nas negociações.
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, disse que a Ucrânia transformou as negociações em um “circo” e acusou Kiev de mudar sua posição como uma “distração”.
A Ucrânia duvida que Putin realmente deseje um fim do conflito. Autoridades temem que ele tenha exigido ao seu exército uma vitória na região de Donbas a tempo do desfile anual do Dia da Vitória, na Praça Vermelha em 9 de maio, que comemora a rendição nazista na II Guerra Mundial.







