O presidente russo, Vladimir Putin, alertou o Ocidente nesta quarta-feira, 25, que a Rússia estaria disposta a usar armas nucleares se for atingida por mísseis convencionais pela Ucrânia, em uma revisão da doutrina nuclear de Moscou. O chefe do Kremlin também disse que consideraria qualquer ofensiva de Kiev apoiado por uma potência nuclear – a exemplo dos Estados Unidos, importantes aliados dos ucranianos na guerra – como um ataque conjunto.
A atualização é uma reação às discussões nos Estados Unidos e no Reino Unido sobre a possibilidade de permitir que a Ucrânia utilize mísseis convencionais doados por seus aliados, como a Otan, contra alvos russos.
Supostas ameaças militares
Durante uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, Putin disse que as mudanças na doutrina refletem um cenário global em rápida transformação, que gera novas ameaças e riscos à segurança nacional russa. “Está proposto que a agressão contra a Rússia por qualquer estado não nuclear, mas com a participação ou apoio de um estado nuclear, seja considerada um ataque conjunto à Federação Russa”, disse.
Além disso, ele enfatizou que seu país poderá utilizar armas nucleares caso detecte um lançamento “em massa” de mísseis, aeronaves ou drones direcionados ao país. A Rússia se reserva o direito de responder com armas nucleares não apenas a ataques diretos, mas também a ameaças contra sua aliada, Belarus.
O chefe do Kremlin classificou essas novas diretrizes como uma resposta “cuidadosamente calibrada e proporcional” às atuais ameaças militares, confirmando que a doutrina nuclear russa está em evolução. Segundo ele, emendas para mudar a doutrina estão sendo elaboradas desde o ano passado. O marco anterior, estabelecido em 2020, previa o uso de armas nucleares apenas em caso de ataque nuclear ou convencional que ameaçasse a existência do Estado.
Em 2022, os Estados Unidos estavam tão preocupados com o possível uso de armas nucleares táticas pela Rússia que alertaram Putin sobre as consequências dessa medida, de acordo com o diretor da Agência Central de Inteligência, Bill Burns.
Escalada de tensões
A guerra na Ucrânia, que já dura dois anos e meio, desencadeou o confronto mais grave entre a Rússia e o Ocidente desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962 — quando as duas superpotências da Guerra Fria quase iniciaram uma guerra nuclear intencional.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem solicitado apoio para que a Ucrânia utilize mísseis de longo alcance, como os ATACMS dos Estados Unidos e os Storm Shadows britânicos, para atingir alvos profundos na Rússia, longe da fronteira, e limitar sua capacidade de ataque.
Com o avanço das forças russas em áreas estratégicas da Ucrânia, Zelensky aumentou a insistência para que o Ocidente ignore as “linhas vermelhas” definidas pela Rússia. Enquanto alguns aliados ocidentais consideram essa abordagem, Putin alertou que o Ocidente e a Ucrânia “estão brincando com fogo”, potencialmente arriscando uma guerra global.
A Rússia, maior potência nuclear do mundo junto aos Estados Unidos, controla aproximadamente 88% das ogivas globais.
Andriy Yermak, chefe de gabinete do líder ucraniano, criticou as ameaças de Putin, afirmando que “a Rússia não possui mais instrumentos de intimidação além da chantagem nuclear”.
Tanto Putin quanto o presidente americano, Joe Biden, expressaram preocupação com a possibilidade de um confronto direto entre a Rússia e a Otan, alertando que isso poderia se transformar em uma Terceira Guerra Mundial. O candidato presidencial republicano Donald Trump também expressou temores sobre o risco de um conflito nuclear.