Projeto para remover prostíbulos do Red Light gera polêmica em Amsterdã
Bairro da 'Luz Vermelha', conhecido pelos coffee shops de maconha e oferta de prostituição, virou alvo no governo em tentativa de conter turismo
Profissionais do sexo de Amsterdã, na Holanda, estão protestando contra os planos do governo para transferir prostíbulos do famoso Red Light District, o Distrito da Luz Vermelha, para um “centro erótico” nos subúrbios da cidade. O projeto da prefeita, Femke Haselma, pretende repaginar a imagem de “terra sem lei” da cidade perante turistas.
De acordo com as autoridades, as novas regras para profissionais do sexo incluem exigir que as empresas de prostituição de Amsterdã fechem suas portas às 3h, em vez das 6h, para combater o que o governo descreve como “comportamento incômodo” dos turistas que visitam o distrito.
Mas é a transferência dos prostíbulos para longe do centro da cidade que tornou-se o maior alvo de críticas. Profissionais do sexo se consideram vítimas da tentativa da prefeita de controlar a criminalidade na cidade.
“A prefeita diz que somos apenas uma atração turística e que as pessoas vêm para zombar de nós e nos humilhar”, disse Michelle, uma trabalhadora do sexo local, à agência de notícias AFP. “Mas não é assim.”
O principal argumento dos protestos é que as reformas aumentam o estigma contra a prostituição, dando pano para manga à discriminação injusta. Também consideram que os prostíbulos estão sendo usados como bode expiatório para o problema do turismo em massa.
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Segundo Michelle, o bairro já está cheio de cartazes detalhando as regras ao redor da prostituição. “O problema é que ninguém é multado”, concluiu, criticando o trabalho da prefeitura.
Haselma alega que Amsterdã tem que afastar sua imagem de “cidade do pecado” e tentar conter o turismo de “seco e drogas”. Um porta-voz do vice-prefeito, Sofyan Mbarki, disse à emissora americana CNN que o pacote de medidas é projetado para manter a cidade habitável, argumentando: “Agora temos que escolher restrição em vez de crescimento irresponsável”.
“Sempre haverá resistência, independentemente da solução escolhida”, disse a prefeita à AFP.
Centenas de moradores dos subúrbios também se juntaram aos profissionais do sexo em protesto contra a criação dos centros eróticos. Organizações como a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), com sede na cidade, também se opõe a trazer essas atrações para perto de sua sede.
Halsema afirmou anteriormente que alguns visitantes veem as prostitutas vitrinistas apenas como uma atração turística, argumentando que um centro erótico vai reduzir a pressão sobre o Distrito da Luz Vermelha e criar um local onde as profissionais do sexo possam trabalhar com segurança e sem perturbações. Profissionais da área rejeitam esse argumento e explicam que os centros afastados podem prejudicar sua segurança para voltar para casa.
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Além disso, estipula-se que os 100 novos centros propostos pela prefeitura não vão ser suficientes, já que existem 250 estandes no Distrito da Luz Vermelha. No bairro, onde a prostituição é legal e existe desde o século 16, há espaços para cultura, arte e “diversão erótica”. Por isso, muitas profissionais acreditam que deslocar esse setor para os subúrbios é semelhante a um projeto de gentrificação.
Os manifestantes entregaram à prefeita uma petição assinada por 266 profissionais do sexo, que pedia mais policiamento no distrito em vez de horários de fechamento mais cedo e a mudança para um centro erótico.