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Produção de cocaína bate recorde mundial com novos centros de tráfico

Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime disse que o cultivo de coca aumentou 35% entre 2020 e 2021; demanda se recupera após pandemia

Por Da Redação
16 mar 2023, 09h41

Um novo relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime revelou nesta quinta-feira, 16, que a produção global de cocaína atingiu níveis recordes. Segundo a organização, o cultivo de coca aumentou 35% entre 2020 e 2021, e deve seguir em ascensão à medida que a demanda se recupera após as interrupções causadas pela pandemia de Covid-19.

O aumento na produção de coca é o maior desde 2016 e está relacionado à melhora da eficiência dos laboratórios de cartéis sul-americanos, no meio da selva, onde podem extrair mais pó das folhas de coca. O aumento da produção foi resultado de uma expansão no cultivo do arbusto de coca, bem como melhorias na conversão da coca em cocaína em pó, explica o texto.

O relatório das Nações Unidas mostra ainda que o aumento na produção está relacionado ao surgimento de novos centros de tráfico na África Ocidental e Central. Os cartéis criaram novas rotas para evitar o olhar atento dos agentes antinarcóticos. Segundo o texto, os traficantes também estão usando serviços postais internacionais com mais frequência para levar drogas aos consumidores.

O escritório das Nações Unidas observou que, nos países da África Ocidental, aumentou o uso de “serviços postais bem estabelecidos e com operação global, bem como empresas de compras menores”, usados para contrabandear cocaína para a Europa e outros continentes.

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No geral, o relatório constatou que a Europa e a América do Norte são os maiores mercados de cocaína, seguidos pela América do Sul, Central e Caribe.

A quantidade de cocaína que flui pelos portos do Mar do Norte, como Antuérpia, Roterdã e Hamburgo, agora supera a de Espanha e Portugal, historicamente a porta de entrada da droga na Europa Ocidental.

Os portos da África Ocidental e Central, como a África do Sul e Moçambique, também são centros cada vez mais preferidos para o transporte de cocaína para a Europa e para destinos mais arriscados, como a Austrália. O consumo no remoto país da Oceania atingiu o pico em meados de 2020, caiu 50% no ano seguinte e aumentou “moderadamente” nos últimos meses de 2021.

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Carteis também estão procurando se expandir para mercados nascentes, mas em rápido crescimento, como Ásia e África, diz o relatório. Embora reconheça que esse grupo de consumidores “ainda é limitado”, Ghada Waly, diretora executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, disse que o potencial de expansão do contrabando nessas regiões é uma realidade perigosa.

Segundo as Nações Unidas, a pandemia de Covid-19 “abalou” os mercados de drogas, já que viagens internacionais foram significativamente reduzidas. A demanda por cocaína também caiu quando boates e bares foram fechados durante os lockdowns e quarentenas generalizadas.

“Globalmente, o uso de serviços de encomendas e correio aumentou significativamente durante os bloqueios e quarentenas relacionadas à Covid-19, devido às restrições nos voos de passageiros”, disse o relatório Global Report on Cocaine.

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“No entanto, os dados mais recentes sugerem que essa queda teve pouco impacto nas tendências de longo prazo”, acrescentou. “A oferta global de cocaína está em níveis recordes.”

No início da pandemia, cartéis foram forçados a estocar grandes quantidades de cocaína devido às dificuldades de escoar o produto, mas rapidamente criaram um novo modus operandi.

Grandes apreensões de drogas revelaram que a cocaína estava habilmente escondida dentro de abacates, máscaras faciais e até caixotes cheios de lulas em navios cargueiros. Nos casos mais sofisticados, a droga era decomposta quimicamente, misturada a líquidos, ceras e tecidos para que não pudesse ser vista, e depois extraída e transformada novamente em pó no seu destino final.

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No Reino Unido, o relatório diz que houve um “aumento significativo” nas apreensões de cocaína nos “modos de encomendas rápidas e postais”. Interceptações pela polícia também aumentaram – em uma velocidade maior do que a produção, descreve o relatório.

Apesar das apreensões recorde de cocaína – foram quase 2 mil toneladas em 2021 –, operações antinarcóticos apenas desaceleraram o crescimento do contrabando.

“Não há dúvida de que não há limite para a engenhosidade dos traficantes”, disse Antoine Vella, pesquisador do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime que fez parte do relatório.

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O escritório das Nações Unidas informa que a Colômbia ainda domina as rotas de tráfico, embora os caminhos para a Europa tenham evoluído. A quantidade de terras usadas para o cultivo de coca em território colombiano aumentou mais de 40% em 2021, chegando a 204 mil hectares.

Segundo a chefe de pesquisa e tendências das Nações Unidas, Angela Me, o fornecimento de cocaína aumentou na América do Sul quando grupos criminosos assumiram o controle de áreas anteriormente controladas pelo maior grupo rebelde da Colômbia – as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Para ela, isso gerou uma competição entre os grupos, inclusive alguns do exterior, o que aumentou a produção.

As Farc já controlaram vastas áreas do país, nas quais monopolizaram o mercado de drogas, mas a maioria dos guerrilheiros depôs as armas em 2016 como parte de um acordo de paz com o governo. A substituição de safras falhou, contudo, e o vácuo de poder das Farc foi rapidamente preenchido por uma miríade de grupos menores – incluindo um número crescente de colaboradores com cartéis mexicanos, que operam em um mercado mais livre, com preços melhores do que durante o antigo monopólio dos guerrilheiros.

Países como o Brasil – o maior consumidor de cocaína da América do Sul – estão vendo um aumento nas overdoses,  sugerindo oferta e consumo em rápido crescimento.

“Acho que precisamos deixar de pensar na cocaína como um problema europeu e norte-americano, porque também é um problema sul-americano”, disse Vella.

O relatório ressalta que o uso de crack também está em tendência crescente em vários países da Europa Ocidental, incluindo Reino Unido, Bélgica, França e Espanha.

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