Primeiro-ministro da Itália anuncia renúncia
Giuseppe Conte foi desafiado por uma moção de censura proposta pelo líder da extrema direita, Matteo Salvini
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, anunciou em um discurso ao Senado nesta terça-feira, 20, que irá apresentar sua renúncia ao cargo, após ser desafiado por uma moção de censura proposta pelo ministro do Interior e líder da extrema direita no país, Matteo Salvini.
Em sua declaração, Conte afirmou que Salvini foi “irresponsável” em criar uma nova crise política para a Itália por “interesses pessoais e de seu partido”. “Este governo acaba aqui”, anunciou.
Salvini, que é também líder do partido de extrema direita Liga e vice-primeiro-ministro, anunciou há duas semanas o rompimento de sua aliança com o Movimento Cinco Estrelas (M5S). Em seguida, convocou a moção de censura a Conte e pediu novas eleições.
A desavença entre as duas legendas começou após uma série de desentendimentos entre os dois dirigentes por questões relacionadas a orçamento, obras de infraestrutura e outros assuntos centrais.
A renúncia de Conte abre caminho para o presidente italiano, Sergio Mattarella, iniciar consultas formais com os partidos para ver se é possível formar uma nova coalizão. Caso contrário, ele dissolverá o Parlamento e convocará as eleições.
A sessão desta terça-feira no Senado estava prevista desde a semana passada e deveria retomar o debate sobre a moção de censura proposta por Salvini. Antes mesmo da conclusão das discussões, contudo, Conte tomou a palavra e apresentou sua decisão de renunciar.
Em um discurso de 1h30, o premiê dirigiu duras críticas ao líder da Liga e aos recentes acontecimentos no país. Também afirmou que terminaria de ouvir o debate, previsto para durar 3h45, antes de se dirigir ao escritório do presidente Sergio Mattarella para comunicá-lo oficialmente sobre sua renúncia, conforme dita a tradição.
“Os comportamentos adotados nos últimos dias pelo ministro do Interior revelam falta de responsabilidade institucional e grave carência de cultura constitucional”, criticou Conte. “Fazer os cidadãos votarem é a essência da democracia, mas pedir para que votem todo ano é irresponsabilidade”, disse.
A Liga e o M5S formaram uma coalizão há apenas 14 meses, após as eleições de março de 2018. Conte, professor de direito sem experiência política anterior, foi escolhido como um representante independente para ser o líder da coalizão de direita e servir como premiê.
Aproveitando-se de sua recente popularidade e do bom desempenho de seu partido nas eleições para o Parlamento Europeu de meio, Salvini aposta na convocação de novas eleições para se consagrar como novo premiê.
Para tentar evitar esse cenário, o M5S vem negociando a formação de uma nova coalizão com o Partido Democrata (PD), de centro-esquerda e do ex-premiê Matteo Renzi. Segundo pesquisas recentes, a Liga teria 38% das intenções de voto em caso de uma nova eleição.