O primeiro-ministro belga, Charles Michel, apresentou pedido de renúncia na noite de terça-feira 18, diante da revolta contra sua política migratória, que oponentes julgam ameaçar a soberania do país. O maior partido da coalizão do governo, o N-VA, deixou o mandatário depois de seu apoio ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre imigração.
Os problemas de Michel se relacionam a outros líderes europeus, incluindo o presidente da França Emmanuel Macron, que estão tentando manter-se ao centro diante da oposição de esquerda e direita.
Em seu último discurso para o Parlamento, Michel pediu que os oponentes de esquerda montassem uma nova aliança que possibilitaria sua manutenção no cargo. “Eu sei que este governo não tem a confiança desta câmara. Sei disso. Posso sentir isso. A questão é: Queremos trabalhar em um projeto levando em conta os interesses dos nossos cidadãos?”, questionou o político.
Mas os partidos de esquerda, que tem reclamações de longa data, não foram convencidos. Eles insistiram na submissão de um “voto de desconfiança” e Michel imediatamente entregou sua renúncia ao Rei Philippe, o chefe de estado da Bélgica.
Ao som de aplausos de alguns legisladores, o primeiro-ministro apertou as mãos de diversos ministros do governo e saiu da Assembleia Legislativa. Políticos da direita declararam vitória e disseram que a saída do primeiro-ministro serve de alerta a líderes pela Europa. “Eles tem que ouvir o povo”, declarou Barbara Pas, uma parlamentar do partido de extrema-direita Vlaams Belang.
Também de direita, o N-VA, apoiador do separatismo flamengo, fez com que a administração de Michel ficasse conhecida como “a Coalizão de Marrakech”, em alusão à cidade onde o pacto global da ONU sobre migração foi assinado há alguns dias, e que simbolizou a derrocada do apoio.
Um pesquisador e antigo conselheiro do governo belga, Koert Debeuf, contou ao New York Times que o N-VA leva a questão migratória como uma forma de manter apoio entre o eleitorado conservador, que está migrando para a extrema direita. “É a mesma onda anti-migração que está atingindo a Europa desde 2015”, disse Debeuf, “mas é também um jogo para não perder as próximas eleições.”
Os Partidos Socialista e Ambientalista, por exemplo, não compartilham quase nenhuma visão política com a direita, mas usaram a oscilação do governo para rotular as atitudes de Michel como “esquerdistas”.
Agora, o rei Philippe vai analisar a renúncia e não é claro quando irá aceitá-la. A perspectiva com a renúncia é de que o país não terá um governo funcional durante o inverno europeu ou até as eleições marcadas para maio de 2019.