O presidente do Chile, Gabriel Boric, nesta terça-feira, 30, se juntou ao uruguaio, Luis Lacalle Pou, nas críticas a declarações de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a Venezuela. Após uma bilateral com o líder de Caracas, Nicolás Maduro, o petista disse que as acusações contra a ditadura venezuelana são uma questão de “narrativa”.
“Nos alegra que a Venezuela retorne às instâncias multilaterais. Mas isso não significa fazer vista grossa. Há uma discrepância entre a realidade e as declarações do presidente Lula”, disse Boric, sendo mais direto do que Pou.
O mandatário chileno afirmou que os direitos devem ser respeitados em todo lugar, “não importa a ideologia política”. No entanto, ele disse concordar com Lula de que as sanções econômicas contra os venezuelanos são pesadas.
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Mais cedo, o presidente do Uruguai também fez uma crítica, embora velada, à mesma fala do petista.
“Esta reunião foi antecedida, não sei se de forma planejada, por uma bilateral entre Brasil e Venezuela. Fiquei surpreso quando foi dito que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Já sabem o que pensamos sobre a Venezuela e o governo da Venezuela”, afirmou ele durante discurso no encontro de líderes da América do Sul em Brasília, organizado por Lula.
Discurso en el Encuentro de Presidentes de los países de América del Sur. https://t.co/DiSRZb8qK3
— Luis Lacalle Pou (@LuisLacallePou) May 30, 2023
O líder do Uruguai não citou o petista diretamente, mas, na véspera, Lula fez um pronunciamento controverso defendendo o regime de Maduro. Na ocasião, disse que as acusações de falta de democracia no país caribenho eram parte de uma “narrativa”.
“Cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa, para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião. É preciso que você [Maduro] construa a sua narrativa. E a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que o que eles têm contado contra você”, afirmou.
Lula também acusou os Estados Unidos pela crise econômica e humanitária no país vizinho, dizendo que o bloqueio econômico de Washington contra Caracas era “pior que uma guerra”.
“Eu sempre acho que o bloqueio é pior do que uma guerra, porque na guerra, normalmente, morre soldado que está em batalha, mas o bloqueio mata criança, mulheres, pessoas que não têm nada a ver com a disputa ideológica que está em jogo”, disse o brasileiro.
Tanto a Anistia Internacional e as Nações Unidas suspeitam que o governo venezuelano pode ter cometido crimes contra a humanidade. Segundo essas entidades, ativistas de direitos humanos, jornalistas e líderes indígenas são perseguidos no país. Estima-se que há pelo menos 300 presos políticos na Venezuela.
Lula realiza nesta terça-feira uma reunião de líderes sul-americanos, na tentativa de criar maior integração na região e, possivelmente, ressuscitar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas). Mas o líder venezuelano, Nicolás Maduro, chegou mais cedo para uma visita oficial no domingo 28.