Presidente da Bolívia diz querer restaurar laços conturbados sob Bolsonaro
Com posse de Lula, há expectativa de explicações sobre polêmicas durante governo anterior, segundo Luis Arce

O presidente da Bolívia, Luis Arce, afirmou na segunda-feira, 2, em uma entrevista para a rede de televisão Telesur, que espera que o presidente recém-empossado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ajude a melhorar as relações diplomáticas entre os países e explique polêmicas que surgiram durante o mandato de Jair Bolsonaro.
Durante sua fala, Arce afirmou que tem expectativa de que Lula ajude a investigar possíveis ligações entre Bolsonaro e os políticos bolivianos ligados com a agitação social que tomou o país em 2019. Um dos indícios dessa conexão seria o comportamento do ex-mandatário durante a crise política.
“Há muitas coisas que precisam de uma explicação do governo brasileiro”, disse Arce à emissora Telesur.”Com essa nova relação, esperamos que todas essas informações que estão sendo investigadas na Bolívia possam fluir do Brasil”, acrescentou.
Na segunda-feira, Arce se encontrou com Lula em Brasília. No dia seguinte à posse, o petista deu início a uma série de reuniões com diversos líderes internacionais. Com foco em representantes da América Latina, China e África, o petista se encontrou com o argentino Alberto Fernández e nomes como o rei Felipe VI, da Espanha, e com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza.
Na entrevista à Telesur, Arce destacou o apoio de Bolsonaro à saída de Evo Morales do poder. Na ocasião, o ex-presidente brasileiro usou suas redes sociais para dizer que era um “grande dia”.
Sob pressão dos militares, Morales renunciou em 2019, após uma eleição contestada, no que é visto por seus apoiadores como um golpe de Estado. A oposição tomou controle do governo sob a liderança da presidente interina Jeanine Áñez para organizar novas eleições, vencidas por Arce, candidato de Morales, no primeiro turno.
Em 2021, Bolsonaro se envolveu em outra polêmica com a Bolívia, ao afirmar que uma ordem de prisão contra Áñez e outras autoridades seria “totalmente descabida”. Um ano depois, ele ofereceu asilo no Brasil à ex-presidente interina.
Detida desde março de 2021, Áñez foi condenada a dez anos de prisão em junho do ano passado por acusação de ter tramado um golpe contra Morales.Em sua sentença, o juiz do Tribunal de Primeira Instância de La Paz afirmou ter “a plena convicção” sobre a participação e responsabilidade criminal da ex-presidente direitista de 54 anos “pelos crimes de resoluções contrárias à Constituição e às leis e violação de deveres (…)”. Além de Añez, foram condenados a dez anos de prisão o ex-comandante das Forças Armadas William Kalimán e o ex-chefe de política Yuri Calderón, os dois foragidos. A ex-presidente interina da Bolívia ainda responde a outro processo por sediação (similar a um motim), terrorismo e conspiração. Neste caso, a acusação ainda está em etapa de investigação e ainda não há acusações formais.