O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, anunciou nesta segunda-feira, 11, que não se candidatará a um quinto mandato, depois de ter enfrentado semanas de intensos protestos no país. O líder, contudo, decretou o adiamento das eleições presidenciais previstas para 18 de abril e a abertura de um período de transição que permita escolher seu substituto nas urnas.
Bouteflika, de 82 anos, debilitado desde 2013 por causa de um derrame cerebral, enfrenta desde o mês passado milhares de manifestantes que se opõem a sua reeleição. O presidente ainda não anunciou uma nova data para a votação.
Também nesta segunda-feira, o primeiro-ministro argelino, Ahmed Ouyahia, anunciou sua renúncia. A decisão foi comunicada depois de Bouteflika determinar uma remodelação do seu gabinete, que será realizada em breve.
Ouyahia já foi substituído pelo ministro do Interior, Noureddine Bedoui, segundo a agência oficial de notícias do país, Argélia Press Service (APS). Bedoui será o encarregado de formar um novo governo.
O agora ex-primeiro-ministro, de 66 anos, continua na posição de secretário-geral da Reagrupamento Nacional Democrática (RND), o segundo maior partido da Argélia. Ele foi um dos principais “canalizadores” do regime militar que controla o país desde a independência, em 1962.
Ouyahia foi internado hoje no Hospital Militar Ain Naadja, em Argel. Segundo a rede de televisão privada El Bilad TV, ele passa por problemas de saúde provocados pela “pressão sofrida durante os últimos dias”.
Em comunicado lido no principal telejornal noturno do país, Bouteflika anunciou que o processo de transição se dará por meio da convocação de uma conferência nacional “independente e inclusiva”, cujos detalhes não ofereceu, e da formação de um governo de união nacional que tutele todo o processo.
Instabilidade
As mobilizações na Argélia começaram nos estádios de futebol e, em um princípio, estavam voltadas contra a possível candidatura de Bouteflika, de 82 anos, para seu quinto mandato nas eleições presidenciais de abril.
Os protestos chegaram às ruas do país em 22 de fevereiro, dias antes de o regime suspender a inauguração do novo aeroporto de Argel, que contaria com a presença do presidente.
Desde então, as mobilizações aumentaram a cada sexta-feira e passaram de um protesto contra o quinto mandato para um clamor popular de milhões de cidadãos contra a corrupção de um regime dominado pelo Exército e pelo serviço secreto desde a independência do país da França em 1962.
A pressão nas ruas foi mantida diariamente pelos estudantes – uma ação que o regime tentou reduzir antecipando em dez dias as férias universitárias, que começaram no domingo 10 em todo o país.
Na presidência desde 1999, Bouteflika sofreu em 2013 um “derrame cerebral” que prejudicou suas faculdades físicas e que o impediu de fazer campanha nas eleições presidenciais do ano seguinte. Ainda assim, venceu o pleito.
Desde então, Bouteflika não fala em público, se locomove em uma cadeira de rodas empurrada por seu irmão Said, e suas aparições públicas são raras. Até mesmo as suas imagens gravadas pela emissora estatal de televisão foram reduzidas à reunião do Conselho de Ministros e às visitas de governantes estrangeiros.
Há cinco anos o presidente argelino não viaja para compromissos no exterior. Nos dois últimos, ele cancelou de última hora, por “recaídas de saúde”, reuniões já confirmadas com nomes importantes da política mundial como a chanceler alemã Angela Merkel e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamad bin Salman. Em 2006, em pleno vigor, ele recebeu a visita oficial do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.