Em campanha desde que convocou eleições antecipadas no Reino Unido, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, fez um anúncio surpresa no sábado 25, prometendo a volta do serviço militar obrigatório para todos os jovens, homens e mulheres, maiores de 18 anos.
A medida, uma tentativa tida como desesperada de conquistar eleitores conservadores e evitar uma iminente derrota nas urnas, retomaria o abandonado Serviço Nacional Obrigatório. O programa obriga aqueles que atingiram a maioridade a trabalharem 12 meses para as Forças Armadas, ou uma semana por mês durante um ano em serviços sociais para comunidade.
“A todos aqueles que se queixam e consideram pouco razoável que o serviço nacional seja obrigatório, eu digo: a cidadania acarreta tanto obrigações como direitos. Ser britânico é mais do que compartilhar uma fila específica ao passar pelo controle de passaportes”, defendeu Sunak em uma coluna no jornal britânico Mail on Sunday.
Reação adversa
Segundo cálculos do governo britânico, a implementação desse novo plano iria custar cerca de 3 milhões de euros (R$ 16 milhões) por ano. Apesar de ainda estar cedo para saber se a medida será popular, durante as primeiras horas do anúncio, Sunak precisou convencer os meios de comunicação e os próprios eleitores que aqueles que se recusarem a cumprir o novo serviço militar não vão ser presos.
“Não haverá nenhum tipo de sanção penal. Ninguém irá para a prisão por isso”, insistiu o ministro do Interior, James Cleverly, no domingo 26 em uma entrevista para rede de televisão Sky News. “Parte do esforço responde à necessidade de ser útil às Forças Armadas, mas a verdadeira razão da medida é tentar construir uma sociedade mais coesa, onde os cidadãos se misturem além de suas respectivas bolhas, seja por meio de um serviço militar ou de um serviço civil não uniformizado”, acrescentou.
Aposta arriscada
Por trás da proposta polêmica, Sunak parece ter uma estratégia política. Em primeiro lugar, ele tenta conter o discurso nacionalista e populista do Partido Reformista, criado pelo arquiteto do Brexit, Nigel Farage, que tem roubado votos do Partido Conservador. Além do mais, o premiê já vinha levantando a necessidade de reforçar a capacidade militar do Reino Unido, visto que o cenário internacional anda inseguro e repleto de ameaças com a guerra da Rússia na Ucrânia, os exercícios militares da China perto de Taiwan e as crescentes tensões no Oriente Médio. Essas situações o fizeram aumentar o gasto em defesa para 2,5% do orçamento.
Além de Sunak, as próprias forças armadas britânicas têm exigido um maior compromisso da sociedade diante esse cenário. Em janeiro, o chefe do Estado-Maior britânico, o general Patrick Sanders, sugeriu durante um discurso em Londres que o Reino Unido deveria seguir o exemplo de outros países, como a Suécia, que possui o serviço militar obrigatório desde 2017. Ele afirmou que é preciso “adotar passos preparatórios para que a sociedade comece a se adaptar a uma situação pré-bélica”, algo que, segundo ele, seria “não só é desejável, mas essencial”.
Resposta da oposição
O Partido Trabalhista, principal oposição aos conservadores, criticou a proposta que chamou de medida “desesperada”. Segundo a sigla, por trás dela estaria uma deterioração do exército após 14 anos de governos do Partido Conservador.
“Eles esvaziaram as Forças Armadas até deixá-las tão reduzidas quanto nos tempos de Napoleão”, disse um porta-voz da legenda de esquerda.
Em uma recente pesquisa da YouGov, apenas 10% dos jovens britânicos entre 18 e 24 anos apoiam o Serviço Nacional Obrigatório, em comparação com 46% de apoio entre os maiores de 65 anos, núcleo principal do eleitorado conservador. Dentre os jovens, 57% tem intenção de votar no Partido Trabalhista.