Por que voto em Paris provocou levante em ilha francesa no Pacífico
Grupos pró-independência da Nova Caledônia causam onda de violência ao acusarem França de tentar engolir o arquipélago a 16 mil km de distância
Uma onda de protestos se iniciou na segunda-feira 13 na ilha francesa da Nova Caledônia, aninhada no abraço do Oceano Pacífico, em oposição a uma proposta que veio de Paris para expandir o corpo eleitoral da ilha, que não é atualizado desde o final da década de 1990.
O projeto para alterar a constituição da Nova Caledônia para aumentar os direitos de voto dos residentes franceses que moram no arquipélago do Pacífico Sul gerou revolta entre os grupos pró-independência, que acusam a França de tentar consolidar o seu domínio sobre o arquipélago por meio da mudança na lei.
A medida, se aprovada, acrescentará milhares de eleitores aos cadernos eleitorais da Nova Caledônia. Na terça-feira 14, a Assembleia Nacional francesa aprovou a proposta, que agora será encaminhada para o Senado.
Violência
Os confrontos armados entre manifestantes, policiais e milícias dominaram a capital Noumea desde o início da semana, deixando pelo menos quatro pessoas mortas e outras centenas feridas. As autoridades impuseram um toque de recolher na capital e o presidente francês, Emmanuel Macron, decretou nesta quarta-feira, 15, estado de emergência na Nova Caledônia, após uma reunião do Conselho de Defesa e Segurança.
Os manifestantes incendiaram prédios e carros em Noumea, deixando a capital coberta por nuvens de fumaça. Mais de 140 pessoas foram presas e pelo menos 60 policiais ficaram feridos nos confrontos com grupos nacionalistas locais.
“Alguns estão equipados com rifles de caça com chumbo grosso como munição. Outros estavam equipados com rifles maiores, disparando balas”, disse o alto comissário francês na Nova Caledônia, Louis Le Franc.
O ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, afirmou que os militares franceses enviaram “quatro esquadrões adicionais para restaurar a ordem” na ilha.
Domínio francês
A França assumiu o controle da Nova Caledônia em 1853 e impôs um sistema de segregação contra os povos nativos, muitos dos quais vivem hoje abaixo da linha da pobreza. As tensões entre as comunidades indígenas Kanak da ilha, cuja maioria é pró-independência, e o governo francês já duram anos no território semiautônomo, e vem ganhando força desde a década de 1980.
Com o aumento da violência naquela época, a França assinou o Acordo de Noumea em 1998, que promete maior autonomia política ao arquipélago, além de ter congelado os seus cadernos eleitorais. Agora, a votação da Assembleia Nacional tem como objetivo “descongelá-los”, permitindo que os franceses que residem na Nova Caledônia há 10 anos ou mais possam votar.
“Convido os líderes políticos da Nova Caledônia a aproveitarem esta oportunidade e virem a Paris para negociações nas próximas semanas. O importante é a conciliação. O diálogo é importante. Trata-se de encontrar uma solução comum, política e global”, disse o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, no plenário da Assembleia Nacional.