Depois de passar sete anos na prisão, o intelectual dissidente chinês Liu Xiaobo morreu na manhã desta quinta-feira ,13, em um hospital de uma cidade isolada de Shenyang. Alguns dias antes, o governo havia lhe negado o último desejo: receber tratamento fora do país. Prêmio Nobel da Paz em 2010, Liu era considerado inimigo da China. Como na época em que recebeu a distinção já estava preso, foi representado por uma cadeira vazia na Noruega.
Prisoneiro desde 2009, Liu era um estorvo para a burocracia chinesa. Ele vocalizava oposição às contradições dentro do próprio sistema como a falta de coerência entre o discurso oficial e a sede pelo poder e dinheiro da nova geração chinesa. No seu livro único livro lançado no Brasil (“Não tenho inimigos, desconheço o ódio”, da L&PM), ele conta a que a maioria dos alunos que querem entrar para o Partido “não se deixam levar por crenças idealistas, mas são conduzidos por objetivos pessoais”. Independente de qualquer ideologia, explica, são os comunistas que detêm o poder e a melhor coisa a fazer, “se alcançar o sucesso o mais rápido possível for a meta, é filiar-se ao Partido”.
A condenação de Liu foi motivada por ser um dos líderes o movimento que lançou em 2008 a Carta 08, uma petição pública que cobrava do o fim da censura, respeito às leis e democracia — atitude inspirada nos autores da Carta 77, de dissidentes na União Soviética.
O intelectual, também professor de literatura, não tinha um discurso agressivo contra o estado. Acreditava que a reforma democrática só teria chance se viesse pela modificação das consciências dos jovens. Sobretudo pela pela “força de uma sociedade civil que exige liberdade e democracia”, escreveu.
Nos muitos artigos que escreveu, pregou espaços mais amplos entre o estado e a consciência individual, que estavam corroendo as bases totalitárias do regime. “A sociedade chinesa move-se paulatinamente na direção da livre escolha do local de moradia, da livre mobilidade e da livre escolha do trabalho”, escreveu em um artigo de 2006.
O caminho da liberdade, contudo, não se confirmou. A resposta foi totalitária: foi preso, isolado e não pôde mais escrever. Segundo o New York Times, foi o primeiro Nobel da Paz a morrer sob custódia desde o pacifista alemão e inimigo do regime nazista Carl von Ossietzky, em 1938.
Quando foi condenado, o chinês alertou que a mentalidade de escolher inimigos envenenaria o espírito da nação, destruindo sua tolerância e humanidade.
“É um acontecimento triste. É perturbador que os representantes do mundo livre, que têm a democracia e os direitos humanos em alta estima, titubeiem na hora de defender esses direitos”, disse o comitê que outorga o Prêmio Nobel na Noruega.
Liu estava certo: só um regime já sem humanidade manteria preso um homem com um câncer terminal diante dos apelos da comunidade internacional.