Os protestos que sacodem o Cazaquistão desde o último domingo (3), já provocaram o colapso do governo e dezenas de mortes. Mas suas ondas de choque ultrapassam a fronteira do país, provocando forte preocupação também em Moscou e Pequim.
A preocupação da China se baseia em razões econômicas. Para Pequim, o Cazaquistão é um importante fornecedor de petróleo e há bilhões de dólares investidos na exploração e exportação da riqueza mineral.
O Cazaquistão tem vastas reservas de petróleo, gás natural e metais preciosos, o que o torna fundamental para abastecer à poderosa – e sedenta – economia chinesa.
“Os investidores estão preocupados porque precisam de um certo grau de estabilidade, independentemente de se tratar de democracia ou ditadura, para continuarem a atuar”, afirmou James Nixey, diretor do programa Rússia-Eurásia da Chatham House, um think tank com sede em Londres, à emissora americana ABC.
“Estamos olhando para um dos maiores países do mundo, com uma incrível riqueza de hidrocarbonetos”, completou. Para efeito de comparação, o Cazaquistão abrange um território do tamanho da Europa Ocidental.
Como consequência, a China está monitorando os eventos de perto. “Os chineses estão esperando ansiosamente, pelo fim dos tumultos”, ressaltou o diretor.
Na última quinta-feira (6), a agência de imprensa estatal Xinhua informou que as autoridades chinesas disseram que a agitação faz parte dos “assuntos internos” do Cazaquistão. E que não há possibilidade de uma intervenção da China.
Já a Rússia decidiu se envolver diretamente com o problema. Isso porque o Cazaquistão é uma ex-república da União Soviética e, mesmo com a extinção do império comunista, em 1991, segue na esfera de influência do Kremlin.
No início desta semana, o presidente Vladimir Putin decidiu enviar tropas russas ao país para ajudar a controlar os protestos.
As forças entraram no país depois que que o presidente, Kassym-Jomart Tokayev, pediu ajuda.
Moscou teme que a agitação possa fazer com que o Cazaquistão saia de sua área de influência. A Rússia está sempre preocupada com a possibilidade de as ex-repúblicas soviéticas deixarem o rebanho, e o Cazaquistão é um país particularmente importante.
Desde sua independência, três décadas atrás, o Cazaquistão tem sido uma autocracia estável, sem protestos ou oposição organizada.
“É do interesse de Rússia e China que os protestos sejam logo suprimidos e que o antigo governo volte a funcionar”, afirmou o analista. “Os dois países não têm interesse em uma revolução seguida por um governo democrático”, observou.
O estopim para as manifestações foi o aumento repentino nos preços do gás liquefeito de petróleo usado em veículos.
As manifestações, no início pacíficas, assumiram caráter radical, com invasão de prédios do governo e combates de rua. Dezenas de manifestantes morreram como resultado da repressão.
Os cidadãos também protestam em oposição ao ex-presidente Nursultan Nazarbayev, de 81 anos, que governou por quase três décadas.
Desde o início dos protestos, não houve notícias do Nazarbayev. Acredita-se que sua família controle grande parte da economia, a maior da Ásia Central.