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Por pressão dos EUA, Opas investigará envio de médicos cubanos ao Brasil

Governo americano afirma que a iniciativa explora os profissionais e somente beneficia o regime da ilha caribenha

Por Redação
Atualizado em 16 jul 2020, 10h01 - Publicado em 16 jul 2020, 09h49

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou nesta quarta-feira 15 que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) vai investigar a contratação de médicos cubanos enviados ao Brasil. Os Estados Unidos haviam ameaçado que só manteriam seu aporte financeiro à Opas, o equivalente a mais da metade do orçamento da organização, quando uma comissão independente fosse criada para avaliar o programa.

“O governo dos Estados Unidos comemora a decisão da Opas de iniciar uma investigação independente para revisar seu papel no programa Mais Médicos”, informou Pompeo. Em abril, a diretora da Opas, Clarissa Etienne, revelou à imprensa que cerca de 60% do financiamento da organização é oriunda dos Estados Unidos, um aporte que classificou de “fundamental”.

Mais de 8.000 médicos cubanos participaram de 2013 a 2018 do “Mais Médicos”, um programa criado para atender regiões pobres e zonas rurais do Brasil, em convênio com a Opas. A venda de serviços médicos é a principal fonte de renda de Cuba, que em 2018 recebeu 6,3 bilhões de dólares por missões em todo mundo, segundo números oficiais. Para os Estados Unidos, no entanto, a iniciativa “explora” os profissionais.

Em meados de junho, Pompeo exigiu da Opas, o escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), que prestasse contas pela exploração dos médicos no Brasil. A Opas “precisa explicar como chegou a enviar 1,3 bilhão de dólares ao assassino regime de (Fidel) Castro” e “por que não buscou a aprovação do Comitê Executivo para participar deste programa”, criticou na época Pompeo.

Em audiência no Congresso dos Estados Unidos no início de julho, o principal diplomata americano para a América Latina, Michael Kozak, disse que a participação da Opas na iniciativa “Mais Médicos” do Brasil, é um tema de “grande preocupação” para o governo de Donald Trump.

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Através deste programa, Cuba enviou médicos ao Brasil “por uma grande quantidade de dinheiro que não foi pago aos médicos, mas ao regime”, disse Kozak. Ele afirmou ainda que em 23 de junho, a Opas aprovou medidas de reforma de gestão “que evitariam que algo assim voltasse a acontecer no futuro sem a participação e a aprovação do Comitê Executivo” da organização.

O Comitê da organização, de nove membros rotativos, é integrado atualmente por Belize, Canadá, Peru, Barbados, Equador, Estados Unidos, Costa Rica, Haiti e México.

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Pandemia

O Ministério da Saúde recontratou 523 médicos cubanos dentro do programa Mais Médicos para suprir a alta na demanda por atendimento causada pela pandemia de coronavírus. Os profissionais atuam em 354 municípios onde foi detectada escassez de pessoal.

Esses médicos cubanos estão entre os cerca de 1.800 que permaneceram no país apesar do fim da parceria entre os governos brasileiro e cubano, o que tornou inválida a brecha que os permitia atender pacientes sem a validação do diploma estrangeiro. Diante disso, a maioria passou a atuar em subempregos. Essa situação mudou com um edital lançado em março, no início da pandemia no Brasil. O documento flexibilizou as exigências e o Ministério da Saúde encontrou na recontratação dessa mão-de-obra uma forma de suprir vagas abertas de forma emergencial.

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A maior parte dos profissionais foi recrutada para trabalhar em cidades do Nordeste (47%), Sudeste (26%) e Sul (14%). Foi dada prioridade para as capitais e regiões metropolitanas devido ao alto adensamento populacional o que tornam as regiões mais suscetíveis à acumulação de casos de coronavírus.

Em agosto do ano passado, ao lançar o projeto Médicos pelo Brasil, criado pelo governo Bolsonaro para substituir o Mais Médicos lançado pelo governo petista em 2013, o presidente Jair Bolsonaro se referiu ao programa que trouxe profissionais cubanos para atuar em localidades pobres do país como “núcleos de guerrilha”. Diante da crise na saúde imposta pela disseminação do coronavírus, e da demora em colocar em pé a versão do bolsonarista do projeto, o atual governo se viu obrigado a recontratar profissionais da ilha.

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(Com AFP)

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