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‘Por favor, gostem de mim’: mulheres brancas dos subúrbios abandonam Trump

Grupo demográfico que impulsionou vitória de republicano em 2016 se afasta do magnata, devido à Covid-19 e reposicionamento da identidade conservadora

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h36 - Publicado em 1 nov 2020, 10h00

Faltando poucos dias para as eleições dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump está ficando para trás nas pesquisas eleitorais, perdendo por 9 pontos para o democrata Joe Biden, segundo o jornal The New York Times. Aflito, o republicano tem feito sucessivos apelos à sua fiel base eleitoral. A lealdade de um grupo, contudo, parece ter sido comprometida. Mulheres brancas de classe média moradoras dos subúrbios americanos, responsáveis por alavancar sua candidatura em estados cruciais no pleito de 2016, romperam com o conservador neste ano.

Em 2016, os subúrbios – bairros formados por casas, onde muitas famílias, recém-casados e idosos de classe média vivem ao redor de grandes cidades – impulsionaram a vitória de Trump, com pesquisas de opinião mostrando que ele venceu essas áreas por quatro pontos. As mulheres brancas apostaram no republicano, com 47% dos votos, enquanto 45% tentaram eleger a democrata Hillary Clinton. Quatro anos depois, o jogo virou.

Segundo uma pesquisa do jornal americano The New York Times, em parceria com a Siena College, Biden tem 23 pontos percentuais de vantagem sobre Trump entre as mulheres do subúrbio que moram em estados que alternam entre republicanos e democratas a cada eleição, independentemente da raça. A discrepância não tem precedentes.

Não à toa, o presidente tenta fazer uma súplica de última hora ao grupo demográfico. Neste mês, durante um comício no estado de batalha da Pensilvânia, Trump chegou a implorar por seu apoio. “Posso pedir que me façam um favor, mulheres do subúrbio? Vocês podem gostar de mim? Por favor. Por favor”, disse. 

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Durante o discurso, o republicano vangloriou-se por sua oposição a propostas anti-discriminação de habitação justa, dizendo que “salvou os subúrbios” da suposta violência que viria atrelada à vinda de famílias de baixa-renda. 

“As mulheres do subúrbio deveriam gostar de mim mais do que qualquer pessoa, porque eu acabei com o regulamento que ia destruir seus bairros”, disse Trump. “Eu proibi o regulamento que trouxe o crime para os subúrbios, e por isso vocês vão poder viver o sonho americano. Eu salvei seu maldito bairro, ok?”, completou.

O presidente usa o argumento da segurança desde o início de sua carreira política – com sucesso. Contudo, o ano de 2020 foi marcado por um reconhecimento nacional sobre racismo sistêmico e violência policial, devido ao assassinato do afro-americano George Floyd por um policial branco, que gerou protestos no país inteiro. Criticando o movimento Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”) e classificando os manifestantes como anarquistas e comunistas, Trump, desta vez, afastou eleitores.

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“A opinião pública mudou nas questões de justiça racial. A estratégia de gerar medo racial pode não ser suficiente para ele ganhar desta vez”, diz Kira Sanbonmatsu, professora do Centro de Mulheres Americanas e Política (CAWP) da Universidade Rutgers.

Não apenas George Floyd transformou a percepção nacional sobre racismo, causando uma reavaliação de identidades políticas mais conservadoras, mas os próprios subúrbios estão mudando. Muitos dos eleitores que agora habitam as regiões não são o tipo de eleitor que acredita que seus bairros precisam ser “salvos”: em 1990, 77% das pessoas que moravam nos subúrbios eram brancas; hoje, são 58%.

Além disso, a maior prioridade dessas mulheres que moram em subúrbios não é mais segurança, e sim saúde. A pandemia de coronavírus é o principal motivo porque elas se desenamoraram de Trump, cuja gestão da crise levou aos quase 9 milhões de casos confirmados e mais de 200.000 mortes pela Covid-19, doença causada pelo vírus.

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“Os subúrbios, como todas as áreas do país, estão lutando com o aumento de taxas de infecção e a paralisação do sistema educacional. Na maioria dos casos, são as mulheres que estão tentando educar, criar e manter os filhos protegidos da pandemia, além de trabalhar”, diz Betsy Martin, diretora-executiva do Instituto de Política & Mulheres da American University. “Quando o presidente minimiza o vírus, ridiculariza o uso de máscaras e lida mal com a crise, isso afeta sua imagem”, completa.

Somada a isso, sua retórica agressiva – que o torna popular entre os eleitores masculinos –, o afasta do público feminino para quem ele tão desesperadamente apela. Para Jane Mansbridge, professora de política na Universidade Harvard, mesmo que as mentiras de Trump sobre a segurança nos subúrbios encontre ouvidos receptivos e sua gestão da pandemia seja relevada, seu discurso é repelente

“Uma abordagem ‘machista’ em relação à saúde não é tão atraente para as mulheres quanto para os homens. A maioria das mulheres provavelmente não está mais ouvindo Trump”, diz Mansbridge.

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O afastamento deste grupo demográfico anteriormente fiel a Donald Trump faz parte de uma tendência antiga de transição das mulheres para o Partido Democrata, para a esquerda. Desde 1980, quando os Estados Unidos elegeram o republicano Ronald Reagan, a lacuna de votos masculinos e femininos aumenta, com as mulheres favorecendo os democratas.

Assim como as mulheres têm tendência para a esquerda, os homens tendem para a direita há décadas. Trump pode ser tanto um produto desta lacuna quanto uma causa: se a coalizão republicana já não tivesse se tornado fortemente masculina, é plausível que Trump não tivesse ganhado a indicação para o Partido Republicano em 2016. 

“Este pleito acentua a tendência, porque o Partido Republicano se tornou o Partido Trump. Não é mais uma legenda com a qual muitas mulheres podem se identificar”, diz Betsy Martin. “Se Trump perder na próxima semana, o Partido Republicano vai precisar fazer uma auto-avaliação para o futuro”, completa.

O pleito do dia 3 de novembro deve testemunhar a maior lacuna de gênero na preferência partidária desde que as mulheres conquistaram o direito ao voto, exatos 100 anos atrás. E, se a tendência se confirmar, isso significará boas notícias a Joe Biden.

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