A aprovação do presidente do Chile, Gabriel Boric, despencou de 50% para 36% durante os primeiros dois meses do seu mandato. De acordo com pesquisa do Cadem, realizada semanalmente, afirma que é uma queda rápida e pronunciada, levando a mídia chilena a falar do fim precoce do período de “lua de mel” que geralmente acompanha novos líderes.
A rejeição de seu antecessor, o direitista Sebastián Piñera, só superou a aprovação após quase um ano no cargo. No segundo mandato da esquerdista Michelle Bachelet, o mesmo fenômeno só ocorreu após o oitavo mês de mandato.
O dado sobre Boric sinaliza a impaciência dos cidadãos chilenos e suas grandes expectativas em relação ao profundo processo de mudança do Chile, onde uma assembleia constituinte está em andamento.
A pesquisa do Cadem foi realizada na terceira semana de abril, dois dias após o Congresso rejeitar dois projetos de lei que permitiriam a retirada de até 10% do dinheiro que os cidadãos guardam para suas aposentadorias.
A primeira foi uma iniciativa dos deputados e a segunda, do próprio governo Boric, que colocou certas condições nos saques para evitar um impacto na economia. O país tem uma inflação de 9,4% ao ano, maior que a do México ou da Colômbia.
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Apesar das objeções de economistas, os saques são populares entre os cidadãos, que se ressentiram com a rejeição dos projetos pelo Parlamento. A queda da popularidade de Boric provavelmente se deve, em parte, a essa decepção, reporta o jornal espanhol El País.
Segundo a pesquisa, os redutos eleitorais de Boric continuam sendo mulheres, jovens entre 18 e 34 anos, os habitantes de Santiago e aqueles que se identificam com a esquerda. Conforme a segmentação do Cadem por nível socioeconômico, pessoas mais pobres apoiam menos o mandatário do que os mais ricos. Mais afetados pela inflação e custo de vida alto, a reprovação ao Boric chega a 61% entre níveis socioeconômicos mais baixos.
Boric foi eleito com 55% dos votos em setembro passado, contra José Antonio Kast, da extrema direita.
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As pesquisas também mostram que aumentou o número de pessoas dispostas a rejeitar a proposta de Constituição, que será votada em plebiscito em 4 de setembro. Apesar de quase 80% dos eleitores terem sido a favor da alteração do texto em outubro de 2020, o Cadem registra rejeição de 46%, contra 37% de aprovação.
Enquanto isso, apenas quatro em cada 10 cidadãos têm confiança na Comissão – ponto mais baixo desde que começou seus trabalhos em 4 de julho do ano passado.