Polônia usa gás e canhão de água contra migrantes na fronteira com Belarus
Grupo atirou pedras e tentou romper cerca perto de ponto onde há milhares de pessoas acampadas em condições precárias
Em um aumento de tensões na crise fronteiriça entre Polônia e Belarus, forças polonesas usaram gás lacrimogêneo e canhões de água contra migrantes que tentavam entrar no país através de território bielorrusso nesta terça-feira, 16. Em vídeos publicados nas redes sociais, é possível ver migrantes atirando pedras e outros objetos contra forças policiais, perto do ponto onde há milhares de pessoas acampadas em condições precárias na esperança de entrar na União Europeia.
Polish security forces interfered with gas capsules and water cannon to stop irregular migrants crossing from border line in Belarus. pic.twitter.com/a0p3AwZlYJ
— ANADOLU AGENCY (@anadoluagency) November 16, 2021
Em vídeos divulgados pelo governo polonês é possível também ouvir uma mensagem nos alto-falantes que diz que força será usada se os migrantes não obedecerem ordens. Alguns deles atiram pedras e pedaços de madeira, enquanto outros tenta abrir uma cerca.
O porta-voz da polícia polonesa, Mariusz Ciarka, acusou Belarus de ter equipado os migrantes com armas e disse que a operação foi controlada por Belarus através de drones. Em resposta, o governo bielorrusso disse que abriu uma investigação sobre o uso de força contra migrantes e acusou a Polônia de exacerbar a situação na fronteira.
“Estas são consideradas ações violentas contra indivíduos que estão no território de outro país”, disse o porta-voz do Comitê Estatal da Guarda de Fronteira de Belarus, Anton Bychkovsky, de acordo com a agência de notícias estatal Belta.
De acordo com Piotr Mueller, porta-voz do governo polonês, há cerca de 3.000 a 4.000 migrantes próximos à fronteira polonesa no lado bielorrusso. Ao menos sete pessoas morreram na região desde agosto, quando a crise teve início, de acordo com autoridades polonesas. Há também relatos de mortes no lado bielorrusso da fronteira.
Na semana passada, a situação já havia se agravado com uma tentativa em massa de travessia à força, perto do vilarejo polonês de Kuznica. Para tentar conter a situação, a Polônia enviou mais soldados, guardas e policiais à região fronteiriça, e efetuou dezenas de prisões.
O governo polonês acusa há meses Belarus de tentar iniciar um confronto ao encorajar que migrantes e refugiados do Oriente Médio e África cruzem via seu território para a União Europeia, em vingança por sanções sobre o governo do presidente Lukashenko. O objetivo dessas sanções, segundo a UE, é “pressionar” as autoridades bielorrussas a iniciar “um diálogo nacional genuíno e inclusivo” com a sociedade e evitar mais repressão.
Boa parte do Ocidente impôs barreiras econômicas a Minsk como punição pela fraude nas eleições presidenciais de 2020, que deu ao ditador Lukashenko seu sexto mandato. Os 27 embaixadores da União Europeia já concordaram que o número crescente de imigrantes na fronteira faz parte de uma guerra de nervos empreendida por Lukashenko, o que abre a possibilidade de que sejam impostas novas sanções ao país.
Segundo Marta Gorczynska, advogada de direitos humanos em contato com imigrantes e refugiados no local, a situação está “apenas piorando”.
“As condições nas florestas entre Polônia e Belarus são muito duras, é uma região onde há muito pouco acesso a água e comida e não há acesos a abrigos quentes”, disse à rede Al Jazeera. “São pessoas que estão privadas de assistência humanitária básica”.
Para a especialista, “Belarus é responsável por fornecer assistência a estas pessoas, e em primeiro lugar não usá-las como ferramentas políticas para pressionar a UE”. Do outro lado, a Polônia “também é obrigada a fornecer assistência para estas pessoas”, de acordo com o direito internacional.