Polônia usa gás e canhão de água contra migrantes na fronteira com Belarus
Grupo atirou pedras e tentou romper cerca perto de ponto onde há milhares de pessoas acampadas em condições precárias

Em um aumento de tensões na crise fronteiriça entre Polônia e Belarus, forças polonesas usaram gás lacrimogêneo e canhões de água contra migrantes que tentavam entrar no país através de território bielorrusso nesta terça-feira, 16. Em vídeos publicados nas redes sociais, é possível ver migrantes atirando pedras e outros objetos contra forças policiais, perto do ponto onde há milhares de pessoas acampadas em condições precárias na esperança de entrar na União Europeia.
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Em vídeos divulgados pelo governo polonês é possível também ouvir uma mensagem nos alto-falantes que diz que força será usada se os migrantes não obedecerem ordens. Alguns deles atiram pedras e pedaços de madeira, enquanto outros tenta abrir uma cerca.
O porta-voz da polícia polonesa, Mariusz Ciarka, acusou Belarus de ter equipado os migrantes com armas e disse que a operação foi controlada por Belarus através de drones. Em resposta, o governo bielorrusso disse que abriu uma investigação sobre o uso de força contra migrantes e acusou a Polônia de exacerbar a situação na fronteira.
“Estas são consideradas ações violentas contra indivíduos que estão no território de outro país”, disse o porta-voz do Comitê Estatal da Guarda de Fronteira de Belarus, Anton Bychkovsky, de acordo com a agência de notícias estatal Belta.
De acordo com Piotr Mueller, porta-voz do governo polonês, há cerca de 3.000 a 4.000 migrantes próximos à fronteira polonesa no lado bielorrusso. Ao menos sete pessoas morreram na região desde agosto, quando a crise teve início, de acordo com autoridades polonesas. Há também relatos de mortes no lado bielorrusso da fronteira.
Na semana passada, a situação já havia se agravado com uma tentativa em massa de travessia à força, perto do vilarejo polonês de Kuznica. Para tentar conter a situação, a Polônia enviou mais soldados, guardas e policiais à região fronteiriça, e efetuou dezenas de prisões.
O governo polonês acusa há meses Belarus de tentar iniciar um confronto ao encorajar que migrantes e refugiados do Oriente Médio e África cruzem via seu território para a União Europeia, em vingança por sanções sobre o governo do presidente Lukashenko. O objetivo dessas sanções, segundo a UE, é “pressionar” as autoridades bielorrussas a iniciar “um diálogo nacional genuíno e inclusivo” com a sociedade e evitar mais repressão.
Boa parte do Ocidente impôs barreiras econômicas a Minsk como punição pela fraude nas eleições presidenciais de 2020, que deu ao ditador Lukashenko seu sexto mandato. Os 27 embaixadores da União Europeia já concordaram que o número crescente de imigrantes na fronteira faz parte de uma guerra de nervos empreendida por Lukashenko, o que abre a possibilidade de que sejam impostas novas sanções ao país.
Segundo Marta Gorczynska, advogada de direitos humanos em contato com imigrantes e refugiados no local, a situação está “apenas piorando”.
“As condições nas florestas entre Polônia e Belarus são muito duras, é uma região onde há muito pouco acesso a água e comida e não há acesos a abrigos quentes”, disse à rede Al Jazeera. “São pessoas que estão privadas de assistência humanitária básica”.
Para a especialista, “Belarus é responsável por fornecer assistência a estas pessoas, e em primeiro lugar não usá-las como ferramentas políticas para pressionar a UE”. Do outro lado, a Polônia “também é obrigada a fornecer assistência para estas pessoas”, de acordo com o direito internacional.